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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A (re)volta

    Eu cheguei no inverno, época que todo mundo espera pra poder tirar do armário os casacos, cachecóis, botas para usar nos incríveis e congelantes 19ºC (abaixo de 20 já é frio, muito frio né?!) Eu, que já tinha passado por uma insolação aos 9ºC, estava felicíssima de poder tirar a poeira dos meus modelitos Garota de Ipanema. Não conseguia passar 5 min na rua que já me sentia uma tainha frita. Esse foi o primeiro baque, o calor.

    Definitivamente, andando na rua é que se percebe as maiores diferenças. Cheguei a pensar várias vezes que tinha algo errado comigo, talvez um chiclete no cabelo, uma calça rasgada, alguma coisa no meu dente, porque as pessoas olham de cima a baixo. Sem contar o pavor de sair sozinha à noite e um louco entrar no meu carro, tirar todo o meu pouco-dinheiro e me largar no meio do mato. Mesmo com todo o cuidado foi +- o que me aconteceu na primeira noite que saí. Fui com alguns amigos a um barzinho para matar a saudade do chopp (e deles também....), quando, depois de algumas tulipas e uns petiscos, veio o susto. O garçom chegou, nos abordou cordialmente, mas logo percebi que era encrenca. Chegou alegando que devíamos uma certa quantia, pelo que havíamos consumido, e levou toda a minha grana... mais um choque... o preço de tudo!

    Mas todas essas coisas são apenas matérias de (re)adaptação. Não me esqueci que chegando à América do Norte, eu parecia um pinguim, toda empacotada, aos primeiros indícios de frio. Observava tooodo mundo nos ônibus, metrôs e calçadas, sem nem ser notada. Fui eu quem ‘esqueceu’ o iphone na mesa e ele não existia mais quando voltei tranquila para buscar. E gastei muito mais do que deveria, por livre e espontânea vontade, quando me deparei com a Dollar Store. São sim situações complicadas, mas nada, nada mesmo, comparadas aos contrastes internos (pessoais).

    Confesso que a grande demora para fazer esse post foi uma pequena trava que tive logo depois que cheguei. Primeiro eu não tive tempo, quando terminados os reencontros sociais eu fiquei muito, muito ocupada trabalhando noites de feira, e dias inteiros nos fins de semanas para ganhar como chef, aqui menos do que ganhava como caixa de supermercado lá! Baque devastador!

    Quando você decide imergir em outra cultura, como eu fiz, você acaba por adquirir vários traços dela, bons ou não. Eu por exemplo acho que voltei mais cordial, costumava ser daquelas que entram no elevador e não dizem nem ‘bom dia’, agora presto mais atenção às pessoas e percebo que um ‘tenha um bom dia’, ‘me desculpe’, ‘posso ajudar?’ fazem sim uma tremenda diferença (e não digo para as pessoas, mas, para mim pelo menos faz!). Uma das maiores e melhores coisas que aprendi foi muito mais profunda e diz respeito à forma de encarar a vida. Notei que aqui, diferentemente de lá, nascemos e estamos destinados à um molde de vida: estudar, graduar, arranjar um BOM emprego, fazer uma BOA carreira, comprar um BOM carro, casar, trabalhar o resto da vida pra criar os filhos, que virão no mesmo molde (claro, digo isso de maneira bem grosseira e é apenas a minha percepção). Geralmente, quando conhecemos pessoas, a segunda pergunta após o nome é ‘o que você faz?’. Somos caracterizados pelo que fazemos. E estamos tão preocupados em manter um alto padrão de vida, que trabalhamos dias a fio para comprar tudo e, quando se vai viver, já não tem mais graça. É aquela velha história, quando há tempo não tem dinheiro, quando se tem dinheiro não há tempo, quando se tem tempo e dinheiro já não há mais energia.

    Minha conclusão? Nós vivemos para trabalhar e esquecemos de trabalhar para viver, como deveria ser. Repito, isso é apenas o meu ponto de vista... o que percebi no ambiente no qual estive. Tem gente que se realiza na carreira. Eu, sou indecisa, gosto de provar de tudo um pouco, não tenho uma paixão só... nunca tive vergonha do que escolhi pra mim (apesar de ser super em cima do muro ainda! Hahaha), mas também nunca falei com muito orgulho de minha profissão. Enxergo como um meio, não como um fim. Por isso, um mês e meio depois de aqui trabalhar na cozinha, decidi largar e me dedicar ao livros, em busca de um trabalho em horário comercial, férias e 13º. Assim, posso conhecer os lugares que quero, passar os fins de semanas com minha família e fazer todos os cursos que eu quiser... como meus convivas de lá vivem...


    É, eu voltei, mas cheia de planos e disposta a seguir a vida aonde ela me levar. Não me importo se vou morar numa kit ou numa casa de 8 quartos, contanto que eu consiga garantir um assento num avião pelo menos uma vez por ano já me dou por satisfeita!   


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A volta

   

    Dia dos namorados, vários balões de coração e alegria no ar. Uai, mas eu não tenho namorado! Não interessa, foi assim que eu fui recebida, dia 12 de junho, no aeroporto de Brasília. Ah vai, todo mundo que passa um ano fora sabe que vai ser recebido de volta pelos familiares e amigos no aeroporto (ainda mais depois que sua mãe, misteriosamente, começa a adicionar todos os seus amigos no facebook, exatamente uma semana antes da sua volta!). Quando faltavam apenas 30 min de voo, eu corri para o banheirinho com espelho simbólico do avião e tratei de passar uma maquiagem. Afinal, 8h de voo deixam qualquer um com cara de figurante do The Walking Dead. Eu não queria que ninguém pensasse que o Canadá tinha me feito mal, né?! Após o desembarque, contagem das 2 super malas, bagagem de mão, mochila e 3 sacolas do Free Shop, fiz uma oração básica para não ser parada na alfândega e corri pro abraço! Aaaah que delícia! Não sabia quem abraçava primeiro, tinham cartazes que nem li e ganhei e um super banho de espuma (ideia da minha mãe!).

    Depois de muitas lágrimas, abraços e beijos melados, o baque é imediato. Estava todo mundo ali, do jeitinho que eu deixei naquela feijoada em julho do ano passado. Mas e eu? Ah, eu não era a mesma pessoa. Logo de cara ouvi de pelo menos 3 bocas diferentes “Nossa Fê, mas você nem tá tão gorda.” Pareciam ignorar ou então ser benevolentes diante dos meus 8kg a mais. Percebi que não vinha só com excesso de bagagem externa, mas a interna também estava lá (e não me refiro ao pacote de gordurinhas), embora ninguém conseguisse ver. Queriam que eu contasse as histórias, mas eu só pensava em uma coisa. Voltar? Não, PÃO DE QUEIJO!!! Pedi logo 4 grandes, tentei pagar em dólares, disse ‘thank you’ e ignorei a cara de ‘que menina desmiolada’ que a garçonete fez.

    Família e amigos, check! Comida, quase check, pois os 3 dias de comilança e indigestão ainda estavam por vir. Agora era hora de ir pra casa, abraçar minha cama, curtir meu chuveiro, minhas coisas. Fui logo abrindo o armário e vi que tinha ganho várias roupas velhas\novas (memória fraca é uma super vantagem, às vezes.), depois de tentar experimentar o 1º short e ele não passar da coxa eu cansei da brincadeira. Postei no facebook que já estava em solo brasileiro e fui dormir. Grande, grande erro!!! Em menos de 5 min começaram a pipocar mensagens no meu celular. Eu tinha esquecido que conhecia tanta gente aqui. Não vou negar que é muito gostoso receber tanta atenção assim, mas só dura +- uma semana! Hahaaaa... Tive que fazer uma agenda de encontros e quase não parei nos primeiros dias. As primeiras pessoas deram sorte, ouviram histórias detalhadas, contadas com brilho nos olhos, mas depois os detalhes foram ficando esmaecidos, as histórias curtas e preguiçosas (apesar de que, até hoje nada me dá mais alegria do que ouvir alguém querendo saber das minhas histórias).

        O caminho da volta é igualzinho ao da ida. Os passos são os mesmos: pessoas e lugares; comidas; emprego; rotina. Aaah, a rotina! É aí que o calo aperta! - e tudo isso eu vou explicar no próximo post! ;) 
 

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

E por falar em saudade....




     Oh well, I beg a pardon to my English speaker's friends, mas hoje não vou nem me dar ao trabalho de traduzir esse post. O conteúdo que aqui consta é de suma identidade brasileira e muitas vezes 'intraduzível'. Afinal de contas, nós somos os únicos no mundo que conseguimos expressar em uma só palavra um sentimento geralmente conhecido por aqueles de mãos quentes (e coração fervente). Apresento-lhes minha querida companheira de viagem: A SAUDADE! Eu sabia que não teria como fugir dela, então resolvi eu mesma trazê-la. Ela veio bem encolhidinha, embaladinha à vácuo na minha bagagem, junto com minhas roupas de frio (e provavelmente vai precisar de uma mala só pra ela na volta..) Quando cheguei a deixei dentro da mala ainda, no fundo do armário.. Achei que só a veria no inverno, mas precisei pegar minhas roupas de frio um pouco antes do esperado, acabei deixando por escapar quando abri a embalagem..


     Bom, no começo ela foi até boazinha, não veio se mostrando e querendo ser o centro das atenções como eu achei que seria... Chegou sorrateira, se escondendo atrás de um cheirinho de pão de queijo, fingindo ir embora num gostinho de farofa, mas sempre dava as caras quando eu resolvia ficar em casa... Ela é uma daquelas madrugadoras, dorme comigo todas as noites, com a desculpa de não me deixar sozinha... Gosta muito de fotos e tem até uns álbuns que já diz serem dela! Sempre notei sua presença e em alguns dias ela parecia mais presente do que nunca. Acho que gosta da chuva, e como estou morando em Raincouver, já viu né?! Nunca me incomodei com ela, acho que preferi a encarar como minha companheira. Comentei várias vezes que estava com saudade e muitas vezes me responderam com um 'aguenta firme, é assim mesmo', mas ela não me traz sofrimento, muito pelo contrário, me sinto sortuda de tê-la por perto... Claro que, muitas vezes, ela pode ser perigosa e faz com que você se pegue com um sorriso de orelha a orelha e se mexendo toda ao escutar um pagodinho fajuto ou então empolgadíssima para ir a uma festa de 'carnaval' (mesmo nunca tendo sido muito fã de carnaval na vida...) Algumas dessas atitudes são claramente influenciadas por ela, e pode até ser preocupante... O negócio é torcer para nunca faltar sensatez... Mas a saudade só existe se houver apego, se houver memória, se houver história, se houver amor... E aí sim, eu escancaro a porta pra ela, porque eu sei que ela não é a falta de alguma coisa, não é um espaço vazio, muito pelo contrário. É um excesso de carinho, é um espaço que tá preenchido por algo que está longe, ou às vezes de um tempo que passou, mas é sempre algo bom!


     Uma pessoa que admiro muito me falou antes de eu vir pra cá: "Quando moramos fora nunca mais somos completos, vamos sempre sentir saudade do lugar (e das pessoas, é claro..) que deixamos, onde quer que estejamos". E cada dia que passa eu consigo entender e ver como faz sentido essa frase! Já estou acumulando uma boa bagagem de saudade daqueles que deixei, daqueles que conheci aqui e me deixaram, daquilo que vivia antes de vir pra cá, daquilo que já vivi aqui e não volta mais.. Tenho certeza que em um ano acumularei saudade para uma vida inteira! Se saudade significar que amo, amei e sou amada, eu não vou me importar com o tamanho dela. Será sempre minha companheira de estrada, aonde quer que eu vá... E para aqueles mais conservadores, que tem medo de arriscar e serem machucados pela saudade, não se preocupem, saudade acumulada só pode ser sinal de vida bem vivida! ;)


     Fica então aqui registrada a minha saudade, que já tomou proporções indimensionáveis. Mãe, pai, irmãozinhos, cunhadinhas, sobrinhazinhas, vovó, primaiada (e todos os tios), amigos (daí e daqui), companheiros de estrada, gatinhos (sim, tive que incluir até a chata da Sushi...), minha cidade, meu quarto, minha cama, minhas roupas, pão de queijo, farofa, tapioca, pudim, brigadeiro, comidinha da mamãe, strogonoff, chickendillas, rock melon, domingos em família (e qualquer dia da semana na casa dos meus irmãos), cinema de toda segunda-feira, sambinhas de terça-feira, cafés das madrugadas de quarta, quinta de jogos, seriados de sextas inteiras, dobras aos sábados (por incrível que pareça!), sol, sol, sol, dirigir, dormir até às 14h e ser acordada com o almoço na mesa, shopping, clube, baralho, imagem&ação, uno, havaianas e mais um baaando de coisas que não são descritíveis....













terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Então.. É natal...


24 de dezembro de 2012.



     Natal. Gingerbread, pinheiros, neve, candy cane, Santa Claus e mistletoes. Meu primeiro natal longe de casa. Não fossem as irritantes musiquinhas que ando ouvindo todos os dias há um mês eu nem perceberia que o natal chegou! Porque natal sem farofa, arroz com passas (jantar de fim de ano sem ter que separar as passas do arroz não tem graça), chamonix da vovó, amigo oculto e a ansiedade para ver os presentes que estão embaixo da árvore não tem a menor cara de natal. Me disseram que seria uma das partes mais difícieis de se morar fora, aconselharam-me a não ver a família no skype na hora da ceia porque bateria uma deprê. Bom, nem se eu quisesse eu conseguiria, a diferença de fuso faz com que o natal aqui comece quando o do Brasil acabou. Hoje acordei e senti como se fosse um dia como qualquer outro, fui trabalhar e minha única preocupação era chegar em casa para preparar um salpicão para o jantar de mais tarde. Continuei tocando meu dia como um outro qualquer, e foi quando comecei a receber algumas mensagens de pessoas realmente queridas. A partir daí já não era um dia comum, meu coraçãozinho ficou na mão e eu me dei conta de quão importante é essa data.

      Eu não sou religiosa, mas agradeço muito à Deus por esse dia, acho que todos precisam de um dia no ano para passar com os mais queridos e  consequentemente se sentir querido também. Acho que esse é o clima no natal, cheio de amor! ;) Facebook cheio de fotos de famílias e ceias fartas. Passei o meu natal na casa de uns amigos da minha roommate, todos na mesma situação que a gente, ninguém era daqui. Chegamos o mais próximo que conseguimos do natal, com peru, jogo para trocar presentes, abraços de merry christmas (ou no caso Feliz Navidad porque era todo mundo latino) e musiquinhas para embalar. Não, eu não tive um natal como estou acostumada, mas senti um carinho imenso e lembrei de todo mundo que amo. Definitivamente é uma das partes mais difíceis de um intercâmbio, mas cheio de aprendizado como todos os dias! Até porque é uma delícia, mesmo de longe se sentir amada e querida! Então, é natal, e a todos aqueles que moram no meu coração e também os que estão na mesma situação que eu: aproveitem para ver o natal muito além do Papai Noel, e sim do amor em  toda a sua essência. J Feliz Natal, Merry Christmas (e agora Feliz Navidad también.. jajajaja) 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

De mãos dadas com a vida - What about life meaning?!


     Eu sempre tive um problema com horários (assim como metade da população brasileira tem! Hahaha). Estar atrasada para as coisas já é rotina, e agora é ainda pior. Além de estar em um país que não admite atrasos, eu tenho que administrar essa minha tendência com o horário do ônibus, que eu acabo sempre perdendo! LEntão, para evitar problemas futuros, eu decidi que daqui em diante vou chegar no trabaho meia hora antes. Bom, 30 minutos de nada pra fazer no local de trabalho parece meio torturante, por isso eu resolvi comprar um livro pra ler antes de cada turno.  Odeio sinopses, tanto de filme quanto de livros, acho que acabam por estragar o mistério. Logo, eu só descubro do que se trata quando começo a ler. Meu novo livro já começou mal. Eu o escolhi pelo autor, já li alguns livros dele e adorei, mas logo na primeira página pude perceber que se tratava de um livro triste. Trata-se de um cara já nos seus setenta e poucos, que descobre que tem uma doença fatal e começa a pensar no sentido da vida. Não que eu não goste de ler sobre o sentindo da vida, esse tipo de livro geralmente é profundo e nos leva a pensar. Mas não é exatamente o que eu estava planejando pensar por agora. A primeira coisa que me veio na cabeça foi ‘que péssimo ‘timing’ para esse livro!’.  O problema é que eu me impression muito fácil com as coisas. Se leio uma história de amor fico com vontade de me apaixonar, comédias me fazem querer sair pra me divertir e histórias de câncer me deixam apavorada, com medo de ficar doente ou ter alguém com câncer na família. Então, eu não queria começar a pensar sobre a morte na época em que me sinto mais viva do que nunca!

     Eu estava sentada, tomando um café e lendo meu livro quando um senhor veio falar comigo, como se nem percebesse que eu estava lendo alguma coisa ali. Ele veio com um sorriso aberto e falou ‘A melhor coisa de estar no fundo do poço é que não se tem pra onde ir senão pra cima!’. Continuou falando sobre estar triste ou coisas do tipo, quando de repente parou, olhou pra mim e disse ‘bom, você não parece alguém que esteja deprimida.’( Acertou em cheio senhor, estou longe da depressão.) Apenas meneei a cabeça e ele me falou que era o sortudo da família. ‘Meu pai era fumante e morreu de cancer no pulmão, eu não fumo. Minha mãe era alcóolatra e acabou com cirrose, ainda bem que eu não bebo. Meu irmão morreu num acidente de carro, o que nunca vai acontecer comigo porque eu não dirijo. Então ele me disse que era o mais ‘em forma’ da família, listou e descreveu todos eles (os que ainda estão vivos). Me mostrou sua bicicleta e todos os aparatos de proteção que tinha para pedalar (incluindo o capacete mais hi-tech que eu já vi, colete que brilha, lanterna dianteira, traseira, rasteira e o que mais existia no mundo em termos de segurança). Foi aí que ele percebeu que eu era uma estrangeira e tinha uma expressão de ‘Não tô entendendo nada do que vc tá falando’ e decidiu ir embora. Vestiu o melhor sorriso, me desejou toda a sorte do mundo e foi embora.

      Meu inglês não é tão bom, por isso não entendi absolutamente tudo o que ele falou. Porém pude lê-lo claramente e tirar uma grande lição de tudo isso. Eu percebi que esse homem amava a vida, o que o fez ter muito medo da morte. Contudo, esse medo o levou à depressão e a vida não é tão boa para os deprimidos. Então, qual é a razão para se proteger da morte?! Viver pela metade não basta, pois sempre terá algo para se arrepender, algo que você gostaria de ter usufruído mais para a vida ter valido a pena. A verdade é que a morte é inevitável e está em qualquer lugar. É tolice tentar se proteger dela. O que podemos fazer é dar o máximo para termos uma vida agradável. Evitar cigarros para não ter câncer de pulmão é válido, não porque o câncer pode te matar, mas porque a vida torna-se muito dolorosa e não vale a pena os maços que foram consumidos. Não beber em excesso para não se tornar um alcóolotra, pois não há nada pior do que viver dependente de algo químico. Não dirigir é uma opção, não para evitar acidentes, mas para ser mais saudável. Afinal de contas, acidentes podem acontecer com carros, bicicletas ou até mesmo em casa (o lugar que geralmente consideramos o mais seguro no mundo). Sim, eu comecei a ler um livro sobre a morte, e nunca havia dado tão pouca atenção à ela como agora. A vida também é um ponto de vista, e é tudo o que tenho. Portanto,  no que depender de mim, farei com que seja sempre a melhor possível! J




     I’ve always had a problem with timing (just like most of Brazilians do). Being late for things is certainly a routine for me, and now is even worse because I have to manage the bus schedule with mine. To avoid getting in trouble I decided to go to work half hour earlier from now on, and to spend that time before my shift I just bought a book. I hate reading synopses, either of books or movies; they ruin the mystery of it. So, I only find out what the content is when I start to read it. My new book started in a bad way; I’ve chosen it because I already knew the author and loved his books. But I could see already in the first page that it was a sad book. As cliché as it could be, it is about an old man that discovers a bad disease and start to appreciate life. Not that I don’t like stories about life meaning, they are usually deep and make you think about it, but it’s not what I was expecting for now. My first thought was ‘What a bad time for this kind of book’. The thing is that I get easily impressed with everything. If I read love stories I feel like falling in love, comedies make me want to have fun, cancer stories let me worried about being sick, or even worse, have someone sick in the family. So, I didn’t want to start to think about death at this moment of my life, that I feel more alive than ever.

     I was sitting by myself drinking my coffee and just starting to read the book when an old guy started to talk to me; as if he didn’t care I was reading something. He came with a happy expression in his face and said “the best thing about being at the bottom is there’s nowhere to go, but up!” and kept talking about being sad or something like this when he suddenly stopped, looked at me and said ‘well, you don’t look like someone who is depressed’. You’re damn right Sir, I’m not depressed at all. He told me that he is the lucky one on his family “my father was a smoker and died with lungs cancer, I don’t smoke. My mom was an alcoholic and died with cirrhosis, thank God I don’t drink. My brother died in a car accident, and will never happen to me, because I don’t drive.” Then he just told me that he was the one in best shape on his family, made a list of everybody and described them all! Showed me his bicycle and every protection he had for riding, and when he realized that I was a foreign and had a ‘what-are-you-talking-about?’ expression on my face he decided to leave. Dressed his best smile, wished me the best luck in life and left.

      My English is not that good, so I couldn’t understand everything he said, but I could clearly get his point and it was a good lesson for me. I realized that this guy loved life, which made him so afraid of dying, but this fear made him depressed and life is not that good for depressed people. So what’s the point protecting ourselves from death?! Half living is not enough, there will be always something for you to regret, something you wish you have lived to make dying worth it. The thing is death is everywhere, nobody can avoid it, and it’s pointless to try to scape anyhow. What we could do is just make sure we have a pleasant life. Avoid cigarettes for not having lungs cancer, I agree, but not because you can die of cancer, but because it’s too painful and isn’t worth it. Not drinking for not become an alcoholic, sure, that is nothing worse than depending on some chemical. Not driving is an option, not only to avoid accidents, but for being healthy. By the way, accidents can happen anyway, either in your car, on bicycle or at home (what we usually think is about the safest place in the world). Yes, I started to read a book about death and I couldn’t care less.  Life is also a point of view, and it’s all that I have, so I’ll make sure it’s always the best. J




terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Em cima do muro


        
     Nunca me decidi se acredito em horóscopo ou não, assim como ainda não estou certa sobre minha religião e não tenho tanta certeza de qual é a minha exata profissão... Acho que se pedissem para que eu me descrevesse em uma palavra eu seria a ‘indecisão’ em pessoa! (Isso se eu conseguisse decidir uma palavra para me descrever né?!) Acontece que essa indecisão, que me impulsiona a fazer tudo, é a mesma que me segura para trás e me faz largar as coisas no meio do caminho (assim como esse post, que eu comecei há duas semanas atrás e não consegui terminar...)

      Esses dias eu li um post num blog que eu achei super interessante. Segundo Natalia Klein, dona do blog Adorável Psicose, nós sofremos da ‘síndrome do parque de diversões’. Trata-se de uma analogia interessantíssima que ela faz da vida com um parque de diversões, em que as pessoas estão em um brinquedo mas não tiram o olho do próximo. Me indentifiquei demais. Não que eu não esteja curtindo a minha montanha russa, pois se duvidar entraria na fila para ela várias vezes. Ela certamente é um dos brinquedos mais populares, com graaandes descidas e até loopings em que você fica de cabeça para baixo. Dá um medo danado, mas você não se importa porque o friozinho na barriga antes de cada volta é o que te impulsiona. Mas não consigo deixar de pensar no tanto de coisas que o parque me oferece depois daqui. Quem sabe uma roda-gigante, bem suave, um barco fantasma, um elevador que cai... São muitas opções.

     A verdade é que eu nunca fui tão feliz como nesses últimos quatro meses da minha vida (frase bem comum em cartões de aniversários de namoro... hahaha, embora no meu caso, o namorado seja inexistente). Aliás, poderia fazer um cartão para mim mesma: ‘Fernanda, obrigada pelos últimos meses que passamos juntas, você é incrível, nunca ninguém me fez tão feliz como você me faz. Mesmo com suas loucuras e indecisões diárias você é uma ótima companhia!’. Nunca passei  tanto tempo sozinha como passo aqui. Minha vida inteira eu estava à procura de companhia para fazer o que quer que fosse, e quase sempre tive essa companhia. Não reclamo. E o pior é que, muitas vezes, se não tivesse companhia, eu simplesmente não fazia.  Desde que embarquei nessa jornada alguma coisa mudou em mim. Acho que eu me conheci, e descobri que, afinal de contas, eu não sou de todo má. Nunca imaginei que fosse não só curtir fazer as coisas sozinha, como muitas vezes preferir estar só. Não que eu tenha virado anti-social. Muito pelo contrário, deixei de ser bicho do mato e aprendi que qualquer lugar é um potencial para se fazer amizade. Já fiz bons amigos em bares (quem não faz?), McDonald’s, skytrains e elevadores. Toda esquina é propícia para se conhecer alguém, basta sair da toca.

     Acontece que, mesmo curtindo muito essa minha vida na montanha-russa, eu não consigo evitar de pensar no que vem pela frente. Ainda é cedo, eu sei, principalmente para a minha cabeça, que muda a cada segundo. Mas todo dia quando estou voltando do trabalho, especialmente quando olho para essa vista , algo me instiga a pensar no ‘e depois?’. Eu me sinto com o mundo aos meus pés. Tenho idéias malucas como ir pra Montréal aprender francês, ou talvez Argentina estudar espanhol, como também lembro de casa e de um futuro mais certo. O que me deixa louca é que eu não tenho nada que me segure em lugar nenhum. Não tenho previsões, não tenho expectativas, estou numa ponte, mas não sei pra onde. Às vezes a sensação que tenho é a de que estou tirando umas férias de minha própria vida. Também penso que isso aqui não é vida real, não pode ser. E o irônico disso tudo é que eu nunca passei tanto perrengue como estou passando aqui. Nunca fiquei tanto tempo em um hospital (e sozinha!), nunca estive tão sem dinheiro, nunca passei tanto frio... Mas também nunca tive tanta alegria de VIVER. Aqui eu tenho o meu cantinho, eu compro a minha comida, eu vivo a MINHA vida e isso não tem preço.

      Enfim, enquanto o verão não chega o melhor é aproveitar as voltas que me restam nessa  montanha russa e me preparar para os próximos brinquedos. Antes que a alta temporada  chegue e traga com ela muitos turistas para disputar o meu parque de diversões... Carpe Diem! 

domingo, 4 de novembro de 2012

1/4 de vida





4 de novembro de 2012.


    Há exatos 3 meses eu desembarquei nesse país e comecei uma aventura aqui. De início fiquei deslumbrada, a cidade é linda, as pessoas MUITO educadas e tudo funciona perfeitamente. Agora, depois de um pouco mais de convívio, eu acabei mudando um pouco minha cabeça. Não estou mais tão estarrecida, diria que me apaixonei por isso aqui! Muitos me disseram que eu iria me entediar, perceber os defeitos, ou coisas do tipo, mas, mesmo com a mudança no clima e a chegada da rotina eu continuo em lua-de-mel com Vancouver.

    No começo de Outbubro o clima virou completamente! Literalmente do dia pra noite a temperatura caiu de 22°C para 13°C e nunca mais parou de cair. Junto com o frio chegou a chuva, e eu descobri que não estava nem um pouco preparada para isso. Todo mundo sabe que eu venho de uma cidade que só chove umas 2 semanas por ano! Hahaha Sem contar que o maior frio que passamos é nas festas juninas, e digamos que chega a uns 15°C e já congelamos! Então, tive que sair às pressas para comprar roupas de frio e waterproof para não virar picolé! Meu orçamento se foi pela metade! Os primeiros dias desse clima foram beem complicados! Dor de cabeça, ouvido, e mau-humor por uma semana. Minha roomate um dia me falou ‘ei, vc sabe cadê a minha roomie? Pq não foi essa que eu chamei pra morar comigo!’. Sim, o frio, ou melhor, a chuva conseguiu ME deixar de mau-humor. Maaaas, graças a Deus o ser humano se adapta a tudo! O guarda-chuva virou um acessório de moda, quero comprar um de cada cor! É uma gracinha todo mundo na rua andando com sua umbrella... Não saio mais sem minhas galochas e nunca imaginei que fosse usar um casaco de couro com tanta frequencia como agora. Criei um carinho pelo tempo frio (pela chuva ainda não, por enquanto eu só suporto, e olhe lá! Kkkkkk) e já não congelo mais quando saio na rua aos 5°C. Mas como todos me dizem por aqui, isso é só o início, espere só para ver como vai ser o inverno!

    Poderia passar mais 3h falando do clima (que é um dos tópicos favoritos dos canadenses.. ¬¬), mas acho que vocês não estão tão interessados e eu tenho muito mais coisas para contar.. Estive meio ausente do meu blog, mas foi por um motivo bem nobre, meu novo emprego! Eba, consegui um emprego!! Como disse, meu orçamento se foi pela metade comprando roupas de frio e eu não estava esperando por esse furo, então começou a bater um desespero. Fui numa entrevista de emprego em uma espécie de supermercado gourmet (www.urbanfare.com) e acabei sendo contratada. A princípio era para ser um emprego part-time, em que eu trabalharia apenas 3 vezes por semana. Mas eu acho que eles gostaram de mim, porque estou trabalhando bem o drobro de todo mundo que foi contratado junto comigo. Esse emprego não é o dos meus sonhos, ganho o mínimo e é longe da minha casa. Porém, vamos pegar o lado bom das coisas né?! O interessante de lá é que eu sou uma das únicas que não é canadense, o que está sendo ótimo para o meu inglês e para o meu social, é claro. Outra coisa legal é que eu realmente acho que eles foram com a minha cara, porque eu fui a única que foi treinada em três áreas diferentes, então acabei aprendendo muito mais! Eu trabalho no restaurante, no caixa e na ‘deli’, que é onde tem todos os tipos possíveis e imagináveis de presunto, salame, bacon e afins.... Não é um trabalho difícil e nem muito ativo, mas tem uma parte que é bem interessante para mim: todo dia temos que fazer amostras dos nossos produtos para os clientes, e para tal podemos fazer o que quisermos! Podemos usar QUALQUER produto do mercado e usar quantos ingredientes quisermos. Imagina se eu não fico que nem pinto no lixo, olhando praquelas prateleiras, cheias de coisas sofisticadas, coisas que não existem no Brasil, e com carta branca pra fazer qualquer experiência gastronômica que eu quiser? AMEI!  Outro dia fiz uns nachos de chocolate que foram um sucesso, no final do turno todo mundo tava me perguntando a receita e quando eu cheguei no dia seguinte alguém tinha feito como amostra de novo! Aliás, essa semana estamos fazendo uma semana do chocolate lá, e fizemos até bacon coberto com chocolate (sim, as duas melhores coisas do mundo no mesmo palito, é BOM!)

    Bom, o trabalho preenche metade do meu dia e é culpado por metade do meu cansaço, mas a grande culpa na verdade é da escola. Aí que mora a minha maior frustração! Sim, eu vim pra cá mais no intuito de viver do que de qualquer outra coisa. Se eu não precisasse fazer um curso para poder ter o visto de trabalho eu não faria. Sinceramente, eu aprendo mais inglês no trabalho do que na escola. Todo dia é uma tortura acordar cedo para ir pra aula para chegar lá e ser a única que participa na turma da manhã e de tarde ter aulas bobas que só servem pra encher linguiça. A sensação que eu tenho é que estou perdendo o meu tempo! Eu escolhi uma escola com menos brasileiros, justamente porque queria fugir deles! Hahahaha Eu vim para outro país para falar outra língua e conhecer outra cultura né?! Mas acabei percebendo que é muito complicado! O pessoal da escola é difícil, não sei nem achar uma palavra para classificá-los. Eu não quero ser preconceituosa, mas é MUITO difícil de conviver com certas culturas. Eu sou muito aberta, converso com eles durante as aulas, mas não sai disso, não vira amizade, é simplesmente complicado. Talvez o choque cultural seja muito grande.
    Me restam meus queridos amigos brasileiros, que são pau pra toda obra e minha roomate. Minha relação com ela é ótima, apesar da nossa rotina quase que oposta nós temos tempo de conversar todos os dias. Vamos juntas à academia, shopping, e ficamos vendo filme até tarde quando dá! Sem contar que estou aprendendo bastante sobre a cultura peruano, afiando o meu espanhol e treinando meu inglês também! Nos divertimos muito juntas e isso ajuda também a amenizar um pouco a saudade de casa. Minha casinha aqui eu já até posso chamar de lar (um lar CARO, mas um lar... hahahahah) Estou com saudades do Brasil, mas por Brasil leia-se ‘família, amigos, farofa e brigadeiro’, por enquanto mais nada me faz falta, to in love com esse lugar e minha vontade era trazer todo mundo pra cá! Quem sabe um dia eu não consigo?! 

Ps.: eu não sei pq tá essa cor de fundo do texto e eu não consigo mudar e tenho q sair pro trabalho, sorry... ;///