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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Morando BEM 'na gringa'


    Dizem que a primeira impressão é a que fica... Mentira! Se a primeira impressão que tive do Canadá (leia-se: da minha primeira casa no Canadá) fosse a que permanecesse eu já estava no Brasil de volta há muito tempo! Para a minha sorte a família conseguiu reverter a imagem da casa para mim! Naquele dia eu estava decidida a ir embora, bati o pé com a empresa para arranjarem uma casa para mim o mais rápido possível, mas no final do meu primeiro dia eu já tinha criado um carinho tão grande pela família que parecia compensar ficar lá! Eu mal tinha chegado e eles já me levaram para uma festa de família, no dia seguinte me levaram para almoçar num restaurante delicioso! É isso aí, digamos que é fácil me ganhar pela barriga! Descobri uma coisa muito importante sobre mim, eu posso morar em qualquer lugar, desde que a comida seja boa!!! Hahaha As coisas foram ficando menos feias do que pareciam, as russas só ficariam mais uma semana, então logo teria o banheiro só para mim e a escola me devolveria o dinheiro, que era uma quantia considerável. Sem contar que além da casa e da comida eu tinha também minha roupinha lavada (e dobradinha) toda quarta-feira! Easy! ;]

    Mas o tempo foi passando e eu fui percebendo outras coisas além do (des)conforto da casa. Fui fazendo amizades e morar longe do centro começou a ser um problema. Todo dia tinha que acordar muito cedo e carregar uma mochila enorme porque passaria o dia na rua. Levando em consideração que da minha homestay para Downtown (centro) levava de 30 a 60 minutos, dependendo do horário do ônibus, além de cansar eu comecei a gastar muito dinheiro para comer na rua. Sem falar no fim de semana, em que eu tinha que sair na melhor parte da “balada” porque o último skytrain saia 1am. Decidi procurar apartamento mais cedo do que estava planejando! Na minha segunda semana de Vancouver eu já tava vendo uma kitinete velhinha para dividir com mais 3 pessoas e achando o máximo porque tava barata.

    Vou dizer que achar um apartamento foi uma das partes mais difíceis por aqui! O caminho mais fácil é o ‘Craigslist’, oitava maravilha tecnológica do mundo moderno. O Craigslist é uma espécie de classificados virtual em que você pode anunciar desde meia furada até apartamento ou vaga de emprego. No começo eu ficava um pouco receosa, porque qualquer pessoa pode anunciar qualquer coisa, mas depois eu vi que aqui todo mundo usa, a maioria é confiável! Hehehe Todo dia mais de 15 apartamentos apareciam na lista, e eu tinha que selecionar e entrar em contato com uns 10 para que pelo menos 3 me respondessem, fiquei craque em marcar visitas e pechinchar aluguel.

     Como vou passar um ano, não queria morar em qualquer lugar ou correr o risco de dividir com pessoas que fossem passar só um tempinho e depois me abandonar com o aluguel inteiro na mão. Juro que não me importo de dividir apto, ou até mesmo quarto com alguém, mas morando há apenas duas semanas eu não tinha conhecido ninguém que fosse ficar tanto tempo quanto eu e muito menos tinha feito uma amizade interessante para dividir um quarto comigo. No começo eu tinha a ilusão de que conseguiria morar sozinha, até eu descobrir quanto isso custava. Com o tempo fui vendo que o apartamento seria o de menos, o importante era morar no centro. Depender de ônibus, por melhor que seja o transporte público aqui, sempre vai ser chato!

    Foi aí que eu conheci a Jú, nos conhecemos por um amigo e justamente no intuito de dividirmos apartamento... Vimos apartamentos grandes, que teríamos que catar umas pessoas na rua para dividir com a gente. Vimos outros lindos, mas muito pequenos ou muito caros para dividirmos entre nós duas. Depois de duas semanas procurando já estávamos exaustas, meu tempo de homestay estava se esgotando, então resolvi estender por mais 2 semanas. Nosso desespero começou a crescer e chegamos até a ver uns hotéis aqui com banheiros compartilhados e uma cama menor que de casal, mas que o aluguel cabia no bolso, para nossa sorte não tinha mais vagas! Hahaha Também nos deparamos com umas figuras que anunciavam o apartamento e se diziam missionários que estavam na África, que assim que fizéssemos o depósito do primeiro mês de aluguel e o ‘damage deposit’ (é uma espécie de cheque caução, em que você paga metade do aluguel em uma parcela só e quando você libera o apartamento eles te devolvem o dinheiro), eles mandariam a chave, que estava com eles na África. Acho muito engraçado porque já conheci gente que caiu nesse golpe! Depois dizem que brasileiro é que é espertinho e caloteiro né?!

    O problema é que quando comecei a trabalhar fiquei totalmente sem tempo para qualquer coisa, principalmente para ver apartamentos. Mas o caminho de volta pra casa e a demora pra chegar no centro foram começando a ficar insuportáveis. Meu período, já estendido, na homestay acabava no sábado e eu não tinha nada em vista. Resolvi que ia para a residência estudantil (que tinha um cheiro pior do que minha casa, o quarto era compartilhado, mas pelo menos era no centro!!), mas eles só tinham vaga para uma semana! Depois de uma semana, se eu não achasse nada seria considerada oficialmente homeless, o que não é tão mal, dado aos benefícios que o homeless tem por aqui (joking, eu vou falar sobre eles em algum post). Resolvi apelar para uma sessão do craigslist que eu realmente não queria, que era em que estavam alugando apenas o quarto, em casas que já moravam outras pessoas e que eu não tinha idéia. Me chamou atenção o anúncio de uma menina que dizia ter 20 anos e morar sozinha na sala da casa, estava então alugando o quarto. Só mandei msg para ela porque era bem perto do meu trabalho e ela concordou que eu fosse ver o apartamento tarde da noite, que era o único horário que eu tinha. Sem expectativa nenhuma fui lá! Cheguei no apartamento e era muito legal!!! O quarto era grande, tinha uma janela enorme, cama de casal confortabilíssima, um armário bom e a dona da casa uma gracinha! Fiquei doida querendo morar lá! O aluguel não era tão barato, estava exatamente no preço máximo que eu estava disposta a pagar, pensei em ligar pra Jú para dividir o quarto comigo, mas a dona do apê disse que colocou esse preço justamente para dividir só com uma pessoa! No final da visita ela me disse que outra menina também tinha ido ver o lugar e que ela teria que decidir, me ligaria no outro dia...

    Claro que passei o dia seguinte inteiro olhando para meu celular, me sentindo uma adolescente que espera o cara ligar no dia seguinte. Era sexta-feira, e dependendo da resposta dela eu nem teria que ir para a residência. Precisava de uma notícia até meio dia, mas deu uma da tarde e nada.. É, tava muito bom para ser verdade... Resolvi que eu ia ligar pra ela então, ela não atendeu... De novo me deu aquela vontade de chorar, de volta à estaca zero! Uma coisa que percebi é que sempre que me dá vontade de chorar alguma coisa boa acontece! Hahahaha Quando já tava toda cabisbaixa recebi uma msg dela ‘desculpe, não vi o horário, você parece ser uma ótima roomate, sinta-se bem-vinda para se mudar’. No dia seguinte eu estava de mala e cuia, prontinha para me mudar!

    Cheguei no meu apartamento novo e as coisas foram melhores do que eu esperava, estou morando há uma semana no centro e minha vida já praticamente mudou! Começando pela parte de que agora eu vejo a luz do dia! Hahahah Minha cama é mesmo uma delícia, tenho uma TV no meu quarto, posso fazer tudo a pé, tem um supermercado atravessando a rua (no qual eu vou umas 3 vezes por dia, descobri que eu amo fazer compras...), um McDonald’s  24h (que eu não como, mas é muito legal dizer que tem... hahaha) e eu moro a 2 quadras da praia!!!! Meu apartamento é na  rua gay de Vancouver, em que as paradas de ônibus são cor de rosa e os anúncios geralmente contém fotos de homens se beijando! O astral aqui é ótimo! Na mesma rua tem minha padaria favorita e várias opções de restaurantes até baratinhos.

   Outra sorte que dei foi ter encontrado a minha roomate, uma peruana muito legal. Nos demos bem desde o início, já cozinhamos juntas, saímos para festa e tô até aprendendo espanhol! Espero de verdade ter tirado a sorte grande no quesito moradia, dói a cabeça só de pensar em ter que me mudar! E quem quiser me visitar está convidado, só avisa antes para eu colocar o pão de queijo no forno!

   

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Morando 'na gringa'


    Ter um lugarzinho para chamar de lar... Acho que esse é um dos grandes desafios de quem mora fora! Quando você faz um programa do tipo que eu tô fazendo você tem que estar disposto a encarar certas coisas... Como morar na casa alheia, dividir uma kitinete com 43 pessoas ou morar longe. Apartamento para morar sozinha? Ah, tem sim, se você pagar um milhão de aluguel! ;]  Eu ainda tenho mais um fator agravante, escolhi  a cidade com o aluguel mais caro do Canadá (comprovado por pesquisas! Hahahaha) Mas como a idéia é passar só um ano, a gente encara sem problemas (ou pelo menos tenta né?!) Dificilmente se fica sem casa, mas lar? Ah, esse é raro... Hoje vou contar aqui a minha experiência do que é  lietralmente ‘morar’ fora!

    Quando escolhi o meu programa eu tinha 3 opções: Homestay (você tem um quarto na casa de uma família ‘nativa’ – já explico porque entre aspas – e eles preparam as refeições para você); Residência estudantil ( Quartos compartilhados ou individuais, mas com banheiro e cozinha divididas entre o resto dos estudantes);  Ou alugar o seu próprio apê. Eu me decidi pela primeira opção por diversos motivos.. Era sim a mais cara, porém eu sentia que seria a mais completa e mais segura. Achei que seria bom para entrar em contato com a cultura, bem como ter ajuda para coisas da cidade que eu não fazia idéia de como seriam. Além, é claro, do conforto de ter todas as refeições prontinhas, sem precisar gastar dinheiro ou tempo. Residência estudantil me parecia ser muito bagunçado (e quando cheguei aqui e fui à residência, porque tinham alguns amigos hospedados lá, dei graças a Deus por não ter escolhido essa opção) e escolher um apartamento para alugar estando a mais de 10.000 Km de distância é um pouco complicado né?! E pra ter certeza de que seria a melhor opção ainda fiz questão de pagar um pouquinho a mais para ter um banheiro só pra mim, porque muitas vezes as famílias recebem mais de um estuudante ao mesmo tempo, aí vira bagunça! Hahaha

    Como tudo que a gente compra a distância e sem o test drive tende a ser diferente da nossa expectativa, é óbvio que minha homestay também foi!  Aliás, minha frustração começou ainda no Brasil, quando, uma semana antes de vir pra cá, eu recebi um e-mail com todos os dados da família e algumas fotos da casa! Queria chorar quando vi as fotos do quarto.. Era menor do que uma dependência de empregada que eles colocam nos apartamentos só pra dizer que tem. Só tinha espaço para uma cama (cujo colchão era daqueles que já é afundado no meio, de tão usado) e uma mesinha. Resolvi que ia começar desde lá o meu desapego pelas coisas materiais (sim, essa também era uma das minhas metas no intercâmbio, haha). No anexo dizia que deveríamos mandar um email para a família nos apresentando e contando um pouco de nós antes de ir. Eu, que nem estava ansiosa e quase não gosto de escrever, fiz um email gigante de apresentação e ainda coloquei algumas fotos no anexo, é claro! Como resposta recebi um ‘Fey, looking forward to meet you, have a safe flight.’ Quase chorei... hahaha Achei que nada do que me esperasse aqui seria inferior às minhas expectativas, que a essa altura, estavam lá no chão!

    Chegando aqui eu descobri que as coisas poderiam ser pior do que eu imaginava. A minha primeira impressão foi a pior possível. Cheguei na casa eram 12:30, fui recebida pela mãe, meio sonolenta e sem muito saco para me receber... A impressão que eu tinha é que ela fazia isso toda semana... Estava morrendo de fome e ela me levou direto para a cozinha.. Como já contei no post 'de fome eu não morro' de cara ganhei um donnuts. Comi correndo, louca pra conhecer meu quartinho de empregada. E quando ela abriu a porta do basement, aí sim, eu quis chorar. O primeiro impacto de todos foi o cheiro. Eu quase não sou fresca para cheiros (né mãe?), quando senti aquele odor de cachorro molhado misturado com sei lá o que, quase dei meia volta. Olhei para baixo e era uma escadinha encarpetada, bem íngrime e no meio deuma escuridão, percebi que eu estava mesmo indo morar no porão.Quando cheguei no meu quarto fiquei um pouco aliviada, era do tamanho de 2 quartinhos de empregada! Tinha até um armário, mas a cama era de fato com aquele colchão com buraco no meio. Lutando com todas as minhas forças e lembrando de todas as minhas resoluções de encarar o que viesse no exterior eu resolvi que não daria importância para aquilo. Foi quando ela me apresentou o banheiro e me avisou que tinham mais duas russas e a filha dela que dividiriam aquele banheiro comigo! Aí eu não aguentei! Eu tinha pago mais caro pra ter MEU banheiro pô! Ter uma dependência de empregada vai, mas eu merecia o banheirinho de empregada também!!!! Liguei para a agência NA HORA (cheia de lágrimas nos olhos, como uma criança frustrada) e falei que queria mudar de casa, que aquilo não era o que estava no contrato. Me atendeu uma brasileira (pura coincidência) e me explicou que como cheguei em época de temporada eles estavam sem vaga em casa com banheiro privativo, que conseguiriam só para a outra semana! Quê???? Ficar uma semana naquela casa com cheiro de perro mojado (sou chique, tô aprendendo espanhol também!)??! Paniquei!

    Foi meu primeiro baque, meu primeiro desespero. Olhei para a minha mala e não tinha coragem de abrir e desempacotar. Estava num cansaço sem fim e não conseguia pensar em relaxar naquela cama com buraco no meio. Estava com uma fome do cão e a única coisa que eu tinha para comer seria outro donnut. Estava apertada, mas chegando no banheiro ele estava ocupado. Eu não ia aguentar aquilo por uma semana! Para cooperar com minha sorte eu cheguei num sábado e segunda era feriado, ou seja, ninguém ia esquentar a cabeça para resolver meu problema no feriado. Eu tava presa àquela casa pelo menos até terça. Quase peguei minhas coisas e fui para um hotel, mas eu sou forte e encarei (e também porque eu não fazia idéia de como pegar um táxi ou de onde ficava um hotel! Hahaha). Resolvi colocar meu telefone e notebook pra carregar, porque depois de 18h de viagem não tinha bateria em nenhum dos dois. É óbviooo que a tomada não encaixava em nenhuma tomada. Pronto, declarado, odeio o Canadá! Estava certo, iria passar um ano morando naquele porão e sem contato com a civilização porque não tinha bateria.

    Sou malvada, não pretendia fazer isso, mas também terei que dividir esse post em partes porque começou a ficar muito grande e ainda tem estrada aí pela frente! Então, não se preocupem, amanhã volto com mais um pedacinho da minha história... 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A saga do meu primeiro emprego no Canadá - Final


    Todo dia que eu chegava na escola estava com cara de ressaca e minhas coleguinhas me perguntavam ‘e aí, aconteceu mais alguma coisa louca ontem?’ Ninguém acreditava que podia acontecer tanta coisa doida comigo de uma só vez! Segunda-feira então era o melhor dia, porque tinha um fim de semana inteiro para contar! Nessa segunda, porém, eu cheguei com mais dúvidas do que histórias..  Perguntava para todo mundo o que eu deveria fazer, e obviamente todo mundo me dizia q era loucura ainda estar trabalhando lá... Mas não sei, acho que deve ser porque eu gosto de desafios... hahahaha

    Quando cheguei em Vancouver, eu achava que tinham pouquíssimos brasileiros aqui, mas com o tempo eu fui vendo que a comunidade brasileira daqui é grande e tende a se juntar... Acabei conhecendo muitos contrrâneos pelas esquinas da cidade... E vou dizer que isso me ajudou bastante... No desespero de não trabalhar sozinha liguei para uma amiga brasileira que namorava outro brasileiro e que conhecia mais um que queria trabalhar.. Expliquei que precisava de um cozinheiro e ela falou q arranjaria um, mas não me deu notícias... Quando cheguei ao pub na segunda, cumprimentei todo mundo e já estava preparando um textinho na cabeça para avisar ao dono que eu não trabalharia mais lá, já que ele não tinha arrumado ninguém... Só que quando eu cheguei o bartender me falou: ‘Fey (eles não conseguem falar Fê por nada nesse mundo, então ganhei esse apelidinho carinhoso que mais parece um nome japonês ou uma abreviação de feia.. hahaha), seu amigo está aqui’ e me apontou um rapaz que estava sentado no bar, mas que eu nunca tinha visto na vida... Logo saquei que era um brasileiro, e que provavelmente tinha sido chamado pela minha amiga, mas não consegui disfarçar e fingir que o conhecia. O dono, que estava bem na frente com o currículo dele na mão, me olhou com cara de espanto e perguntou ‘Peraí, vocês acabaram de se conhecer?’ Não tive como mentir, falei que sim, mas estava tão desesperada para ter alguém para trabalhar comigo que pedi para que o deixasse tentar do mesmo jeito. O dono falou que a decisão era minha, pois agora a cozinha estava nas minhas mãos e o que quer que eu decidisse ele iria acatar...

    Chamei o brasileiro de lado e perguntei se ele já tinha trabalhado em cozinha antes (eu tinha avisado à minha amiga que precisava de alguém com o mínimo de experiência para que eu pudesse treinar o mais rápido possível e pegar uma folga...) Porém, o rapaz só tinha experiência com sapatos... Expliquei para ele tudo o que tinha acontecido até então e deixei bem claro que talvez ele estivesse entrando numa fria, se queria continuar mesmo assim... Ele topou! Eu não sabia exatamente o que estava sentindo naquele momento... Não sabia se me sentia feliz de ser ‘chef’ de uma cozinha, se ficava desesperada ou se me preocupava.... Mas fugir dali naquele momento não era uma opção... A segunda-feira seguiu tranquila e o rapaz me surpreendeu bastante!

    Como eu só podia trabalhar de noite por conta da escola, o dono contratou um ‘chef’ para o turno do almoço.. Um italiano verborrágico, chato e tarado... Teoricamente o Marcos (brasileiro que ia trabalhar comigo) iria treinar com ele durante o dia e ficar comigo à noite para aprender mais rápido, mas no segundo dia ele já veio desesperado falando que não queria trabalhar com esse louco. Montamos uma cozinha brasileira, eu, Marcos e o baiano no dish! Foram dias bem divertidos, montávamos sanduíches e tinhamos permissão para comer o que quiséssemos! A semana seguiu e eu ainda estava à espera de mais um para equipe, pois precisava folgar e o Marcos, mesmo me ajudando muito, não tinha condições de trabalhar sozinho...

    Na quarta-feira o Chris (chef holandês que tinha sumido) me ligou e perguntou se eu ainda estava trabalhando lá... Me pediu desculpas por ter sumido e falou para eu sair de lá o mais rápido possível, pois os cheques que ele recebeu do David eram sem fundo. Ele falou que descobriu mais 5 waiters que também tinham recebido cheques sem fundo e que eles iriam à polícia denunciar o cara... Falou que o que o David fazia era dar pequenas quantias em dinheiro para manter os funcionários felizes por um tempo e dava uma parte maior do salário em cheques sem fundo, que quando iam descontar já estava tarde demais pra recorrer.. Estava me avisando porque provavelmente eu estaria trabalhando de graça... Finalizou dizendo ‘pega a maior parte do que você conseguir em cash e some, senão você vai ficar sem nada!’ Me gelou a espinha, o cara já me devia mais de 500 dólares pelas minhas horas trabalhadas, fora os 400 dólares da despesa do hospital que ele disse que ia pagar porque o meu seguro não quis cobrir... Lembrei de todas as noites mal dormidas, o tempo que eu demorava para chegar em casa todos os dias e todo o cansaço que eu tava sentindo! Isso não sairia de graça de jeito nenhum!

    Ponderei e pensei bem o que poderia fazer para conseguir meu dinheiro! Tava decidido, eu não iria pagar para ver se o cara era pilantra ou não... Mas precisava ganhar pelo menos pelo que já tinha trabalhado! Fui conversar com ele e disse que precisava de dinheiro para pagar o aluguel do novo lugar que eu ia morar. Ele passou duas horas me explicando que teve um problema com a conta bancária dele porque uma garçonete roubou uns cheques e gastou 6.000 dólares dele, então a conta tava suspensa. Abriu a carteira e me deu todo o dinheiro que tinha (100 dólares ¬¬). Falei que eu precisava do dinheiro até sexta, senão não teria como me mudar. Ele me assegurou que daria o que eu precisava, mas que dependia de quanto tivesse em cash no caixa do dia. Avisei que teria que folgar no sábado para fazer minha mudança (sábado era a data limite para sair da casa onde eu estava, mas isso é pano pra outra manga...). Pronto, o plano estava armado... Eu já tinha me convencido que tinha entrado numa fria, então trabalharia até sexta para receber e sumiria... Meu pai fica muito bravo quando uso essa expressão, mas ela se encaixa direitinho aqui, então para amenizar um pouquinho “o que é um punzinho para quem já perdeu o controle do esfíncter?”

    Na quinta-feira cheguei para trabalhar já correndo atrás do meu dinheiro, mas nem encontrei com o cara... Trabalhei agoniada, meu tempo tava passando... Avisei para os meninos que iria embora no sábado e não voltaria mais..  O Marcos desesperou e disse que não trabalharia sem mim de jeito nenhum, inventou que ia voltar para o Brasil, assim o dono tinha que pagar o mais rápido possível para ele... Quando o dono apareceu na sexta fomos conversar com ele e pedimos nosso dinheiro... Ele disse que voltaria no fim da noite e daria tudo que tivesse no caixa para a gente! Me perguntou se eu tinha conta aqui para ele me dar um cheque, na hora eu já respondi que não (é mentira, eu tenho) e falei que precisava em dinheiro... A sexta foi chegando ao fim e já tínhamos combinado que se o cara não pagasse pelo menos a gente ia comer todo o camarão que tinha ali! Hahahaha Graças a Deus ele apareceu com um envelope e me deu ‘tudo’ o que tinha no caixa... 260 dólares... Minha cara foi no chão.. Ele me devia mais de 800 e eu falei para ele que precisava de 600 para pagar o aluguel... Ele me ofereceu ajuda para a mudança no sábado e falou que se eu precisasse de mais dinheiro era só falar com ele que ele iria ver o caixa do dia seguinte...

     Contando assim as coisas parecem ser muito ruins, mas a verdade é que eu tava sentindo um pouco de pena do dono... Ele foi muito bonzinho comigo desde o começo (também pudera, eu salvei a pele dele algumas vezes naquela cozinha...), me trazia milkshake, me pagava taxi para voltar pra casa, e sempre me ofereceu ajuda para o que eu precisava.... Ouvindo o que diziam eu não podia confiar, mas mesmo assim eu fui boba, não tive coragem de pedir demissão na sexta. No sábado liguei para ele e falei que precisava de mais dinheiro... Ele deixou um envelope com a quantia que eu falei que queria... Ele não deu nenhum vacilo comigo, mas era um cara muito enrolado, o sábado chegou ao fim e mesmo sem trabalhar eu estava exausta!! Não conseguia nem pensar na possibilidade de trabalhar no domingo! Decidi que trabalharia, mas já ia avisar que não voltava na segunda...

    Cheguei domingo no pub passando mal. Fui com planos de conversar e pedir minha demissão assim que chegasse, mas ele tava jogando sinuca e eu não quis interromper... Quando me dei conta ele tinha ido embora... E agora, como avisaria? Liguei para ele falando que tava passando muito mal e precisava ir embora... Isso não estava no script... Ele foi ao pub só para levar remédio para mim, mesmo eu repetindo 500 vezes que não precisava... Não vi alternativa, tinha que falar ali, naquela hora... Falei ‘David, eu não venho trabalhar amanhã..’ Ele já estava saindo quando virou assustado e falou ‘O que isso quer dizer? Você tá se demitindo, é isso???’ Não sabia o que falar, me bateu um negócio ruim na hora e eu falei ‘Não sei, talvez...’ Ele ficou nitidamente chateado, virou de costas e falou irônico ‘Thank you, Fey!’ Depois de uma hora, o italiano louco chegou para me substituir e eu fui embora!

    Quando botei o pé na rua eu me sentia aliviada. Não me importava que ainda faltava um dinheiro para me pagar... Foi uma das experiências mais loucas da minha vida, mas valeu cada segundo... Em menos de duas semanas eu trabalhei 80 horas sem folga, tendo aulas pela manhã, cortei meu dedo, conheci 3 ‘chefs’ de nacionalidades diferentes, fui ‘chef’ de um pub, trabalhei sozinha em uma cozinha inventando pratos e lavando louça, fiz amizade com brasileiros muitos legais, tive que tomar decisões completamente sozinha e ainda sobrevivi para contar! Assim termina a saga do meu primeiro emprego aqui! Já estou entregando mais currículos e espero voltar em breve contando a lenda do melhor emprego que alguém pode ter! hahahahahaha

Ps.: Só para arrematar e não me sentir muito culpada eu mandei um e-mail para o dono, pedindo desculpas por ter saído assim. Agradeci a oportunidade de trabalhar lá, toda a ajuda que ele me deu e falei que não poderia continuar porque estava interferindo na minha saúde. Falei que se ele precisasse poderia me ligar e pedi para marcar um dia para pegar o resto do meu dinheiro... Ele obviamente não respondeu! Como nada comigo termina de forma convencional, dois dias depois eu encontrei com ele no supermercado do lado da minha casa (desconfio seriamente que ele pode ser meu vizinho! Hahahaha) Ele tentou disfarçar quando me viu mas não tinha jeito, me cumprimentou meio esquisito e quando eu fui abrir a boca para falar do email e do dinheiro,  ele simplesmente deu dois tapinhas no meu ombro de forma irônica e falou ‘Good Luck!’ É, acho que nunca vou ver a cor desse dinheiro.


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A saga do meu primeiro emprego no Canadá - Parte 3...


    Todo mundo comemora quando chega sexta-feira... No meu ramo eu aprendi a ter ‘medo’ das sexta-feiras.. Quando vc trabalha num restaurante, o fim de semana costuma ser no mínimo longo.. Rentável, mas cansativo. A sexta-feira após os pontos começou cedo e tinha todo jeito de que ia até tarde! Meu dedo amanheceu latejando e eu tive que encarar uma aula chatíííssima de Business.. Para alegrar um pouco o dia fui com o pessoal numa churrascaria brasileira que tem aqui, mas a picanha mal feita já estava me alertando de como seria o dia... No meio do meu almço recebo um e-mail.. Era o Craig, chef que seria demitido naquele dia. Em uma página e meia de texto ele me falava que tinha pedido demissão porque os cheuqes que o dono tinha dado a ele de pagamento estavam voltando, falou também que outros funcionários estavam a meses sem receber e que ele tinha ido lá hoje pedir demissão.. Mais uma vez eu me perguntava onde estava me metendo... Não sabia se acreditava no que ele falou, pois poderia muito bem ser uma forma de vingança por ter sido demitido... Mas ao mesmo tempo também não queria pagar pra ver e correr o risco de trabalhar de graça... Decidi que iria trabalhar aquele dia e no fim do dia decidiria se continuaria lá ou não...

    Quando cheguei ao restaurante me deparei com a cozinha limpinha e organizada, não entendi nada... Quando entrei veio se apresentando para mim o novo Chef: Chris, o holandês. O cara era muito legal! Logo de cara senti que ele entendia de cozinha, e era exatamente o oposto do antigo chef sujismundo.. Tivemos uma ótima sintonia e trabalhamos super bem durante a noite... Mas ainda tínhamos um problema, dois era um número muito pequeno de pessoas na cozinha, precisávamos de mais gente na equipe, principalmente para lavar a louça!! Voltei pra casa com esperança de um novo começo...

    No sábado convidei um baiano que conheci aqui para trabalhar de dishwasher. Ele falava bem pouco inglês e estava com dificuldade de achar um emprego, então achei que estaria fazendo um favor para o rapaz.. Cheguei no restaurante às 2h e passei o dia todo conversando com o holandês, bolando coisas novas para o cardápio e fazendo planos para melhorar nosso trabalho na cozinha... Ele me levou alguns doces holandeses muuuito diferentes de qualquer coisa que eu já tinha provado e eu fiquei de apresentar uns pratos brasileiros para ele... Montamos a escala da semana e incluimos o baiano para lavar louça... A cozinha finalmente estava indo para frente.. De repente eu tinha sim conseguido meu emprego! ;]

    No domingo eu só iria trabalhar as 5h (até pq no sábado trabalhei de 2h até meia noite). Mas como tudo na minha vida não pode ser simples, é claro que eu fui acordada com um telefonema. Era o David (dono do pub) me ligando desesperado pq o Chef holandês tinha mandado um e-mail avisando que não iria trabalhar mais lá!! SIM, eu estava sozinha na cozinha DE NOVO! O cara me implorou para segurar a cozinha para e prometeu que arranjaria alguém logo! Como era domingo o pub fechava mais cedo e o movimento geralmente era fraquíssimo, então resolvi encarar... Esqueci de comentar que eu tenho essa brilhante característica de não conseguir dizer não para as pessoas e acreditar em tudo o que me dizem, fiquei com pena do cara e fui... Cheguei e nao tinha muita coisa para fazer, eu ia encarar aquilo e com fé em Deus o cara ia arranjar alguém, até porque eu precisava folgar, já estava completando uma semana de trabalho (MUITO INTENSA, diga-se de passagem..) sem um dia sequer de descanso.

    Mas adivinhem só?! Naquele domingo, que era para ser um dia vazio e pacato, me parou um ÔNIBUS de velhinhos na frente do pub! Hahahahahah Era um grupo de quase 20 membros de excursionistas da terceira idade que chegaram para comer AO MESMO TEMPO! Me expliquem, o que velhinhos vão fazer num pub em pleno domingo à noite?! Só podia ser piada com minha cara.. Obviamente, eles não queriam chicken wings e batata frita... Passei a noite preparando massas, camarão ao vinho branco, salmon flat breads e quase morri quando recebi um pedido de ‘all day breakfast’ ( uma porcaria de prato que inventaram aqui, em que eu tenho que fazer batatas coradas, linguiça, tiras de bacon no ponto x, torradas e dois lindos ovos estrelados, que na minha correria estourava o diabo da gema toda vez!). Saí de lá um bagaço e convencida de que não trabalharia mais sozinha naquela cozinha, se segunda não tivesse alguém para trabalhar comigo eu pediria demissão!!

    Antes de terminar o post eu preciso abrir um parênteses para contar um caso que aconteceu no meio da minha correria... Estava preparando um prato, quando entra na cozinha um senhor, cliente assíduo, conhecido por ser um ótimo fornecedor (e consumidor) de certas ervas naturais, se é que vocês me entendem.. hahahaha Ele se aproxima e me diz ‘tá vendo ali naquela porta?! Tem um baby mouse ali!’ Eu não entendendo nada, continuo cortando meus legumes, olho com cara de espanto e ele continua ‘Sabe, ao contrário do que as pessoas pensam, ratos não gostam de queijo, ele gostam de verdura..’ Arregalei mais ainda meus olhos e não conseguia assimilar o que estava acontecendo ali e o que o cara queria me dizer... Estava exatamente cortando um brócolis quando ele disse ‘Brócolis seria ótimo!’ Para me ver livre do papo louco ofereci o brócolis que eu tinha ali. Ele sorriu, e falou ‘não precisa tudo isso, é um baby mouse, tem a boca pequena...’ Pegou um mini raminho e sumiu.. 20 minutos depois volta falando que o rato mandou agradecer e adorou o meu presente.. Aqui no Canadá é assim, todo mundo agradece, até os ratos!!! hahahaha

    Amanhã eu volto com a quarta e última parte dessa saga! Não fiquem aflitos! E não se preocuprem, eu já estou dando risada de tudo o que me aconteceu... 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A saga do meu primeiro emprego no Canadá - Parte 2..


    Na quinta-feira eu não tive a aula da tarde e resolvi ir caminhar pela cidade enquanto não dava a hora de trabalhar... Quis dar uma de moça idependente, passei numa livraria (que por sinal virou um dos meus lugares favoritos da cidade), comprei um livro, peguei meu sanduíche e fui para uma ruazinha que tem aqui que não passa carro e eles colocam uns puffs com guarda sol durante o verão... O dia estava muuuito quente, mas eu consegui uma sombrinha e me sentia muito bem ali.. Abri meu sanduíche e dei minha primeira mordida.. Foi aí que chegou um louco (não sei se já expliquei, mas aqui em Vancouver tem muito louco pela rua, mas são loucos mesmo! Pq eles fecharam o manicômio daqui e deixaram todos os loucos na rua pq achavam q seria mais humano..) e perguntou se podia me pedir um favor... Eu olhei com cara de poucos amigos e perguntei o que ele queria... Ele me pediu então pra mudar o meu guarda-sol um pouquinho pro lado.. Eu falei que desde que ele não tirasse a minha sombra tudo bem.. Só que ele simplesmente levou o guarda-sol pro outro lado! E eu fiquei totalmente no sol! Fiquei irritada e falei ‘eeei, eu tava sentada aqui por causa da sombra e você levou minha sombra embora!!!’ Ele então perguntou ‘de onde você é?’ Eu fechei mais ainda a minha cara e falei ‘do Brasil... Me devolve meu guarda sol’ Ele simplesmente foi deitando no puff ao lado (debaixo da sombra do MEU guarda-sol) e falou com tom irônico ‘me conta sobre o Brasil, ouvi falar que é quente lá né?!’ Respirei fundo e me segurei pra não dar um soco na cara dele, foi quando avistei um puff com uma sombrinha logo ao lado... Esse cara não iria estragar meu dia...

    Depois de encontrar meu lugar à sombra eu fui então ligar para o Bernardo (brasileiro com quem eu iria dividir apartamento) pra perguntar se estava confirmada nossa visita ao possível futuro apartamento naquele dia (era aquele apartamento que falei q ficava a 3 passos do pub!)  Foi então que recebi a ótima notícia de que eles tinham achado outro lugar pra ficar e não iriam mais alugar aquele apê... De repente tudo começou a ficar ruim... Meu sanduíche era de atum, e eu não gosto de atum (eu não lembrava disso 5 minutos antes! Hahaha), no meu puff à sombra tinha um menininho q não parava de pular e eu me lembrei que o outro chef seria demitido e fiquei com um frio na barriga enorme de ficar sozinha naquela cozinha... Decidi que eu não queria mais brincar de gente grande! Na hora desapareceu a pose de menina independente, peguei meu telefone e liguei pra minha mãe: ‘MÃÃEEE, QUERO VOLTAR PRA CASAAAAA!!! EU ODEIO ESSE LUGAR!’ Comecei a chorar incontrolavelmente e nem meus óculos escuros disfarçavam mais... O menininho que tava pulando do meu lado parou e ficou olhando pra mim assustadíssimo, chegou até a cutucar a mãe e falar alguma coisa em uma língua complexa demais para uma criança falar (alemão eu acho! Hahaha) Eu queria ir embora, queria uma passagem de avião para aquele dia, queria minha cama, meu conforto, meu emprego de sempre de volta... Minha mãe fez o papel dela e falou que era fase, para eu me acalmar, essas coisas aconteceriam, mas é claro que eu nem dei ouvidos, tava desesperada, empacada e queria ir embora! Desliguei o telefone e resolvi sofrer sozinha, não tenho casa, não tenho amigos (pq todo mundo q eu conheço ta indo embora!!!!), não sei exatamente se tenho um emprego... Vida cruel... Foi quando ouvi uma voz (em inglês)  do meu lado ‘Bom, pelo menos você conseguiu sua sombra.’ Não acreditei que àquela altura tinha alguém falando comigo! Definitivamente não era o momento pra conhecer alguém... Provavelmente meu nariz tava uma bolinha vermelha, meu rosto encharcado e eu não tava com cabeça pra pensar em inglês.. Mas resolvi dar uma chance para o rapaz que só estava querendo ser simpático... No fim das contas conversei com ele por 1h.  O  cara era um russo (vale dizer que ele era lindo!! Hahahaha), de 24 anos, nadador profissional (segundo ele, amigo do César Cielo), que não pôde ir pras olimpíadas de Londres pq machucou o joelho 3 meses antes! Estava perdido pq nadar era tudo pra ele e até então ele ainda não tinha um plano B pra vida... No fim da história eu percebi que ele tava mais em apuros que eu... Me senti mal por estar pensando tudo aquilo e que minha situação não era tão ruim assim... O cara surgiu do nada, me contou a vida dele todaaa (sério, ele contou TUDO... hahahahah) e foi embora... Parece que ele tava ali só pra me mostrar que talvez eu estivesse sofrendo por pouco...

    Levantei um pouco meu astral e fui trabalhar... Encontrei com o chef e tive que agir como se eu não soubesse que ele seria demitido... Ele falava dos planos que ele tava fazendo pro restaurante e como aquela cozinha ia ficar boa agora que eu tava lá.... Foi chegando o fim da tarde  e o pub foi enchendo. Eram 6h e já estava mais cheio do que nos outros dias... Daí o chef simplesmente falou que tinha que ir embora resolver umas coisas e me largou sozinha! Eram 7h da noite e tinham pelo menos umas 7 mesas sentadas... O dono tinha colocado o pub numa promoção do Groupon, em que as pessoas chegavam com um cupom para aperitivo, prato principal e sobremesa, e a maioria das mesas estava com esse cupom... Começou a não parar de chegar pedidos! Teve uma hora que eu olhei e tinham oito comandas, cada uma com pelo menos 2 pratos, e eu sozinhaaa!! A cozinha tava uma zona e eu tive plena certeza de que iria enlouquecer! Queria sair correndo!!! De repente o dono chegou e entrou na cozinha pra me ‘ajudar’, o problema é que ele não sabia o que era uma panela!!! Ele não entendia NADA de cozinha, e ter q explicar as coisas pra ele tava mais me atrapalhando do que ajudando... Estava então preparando um carbonara e fui cortar o bacon. Demonstrei todo o meu talento com a faca e o dono ficou impressionado... Ele parou, ficou me olhando e falou ‘Nossa, você é muito boa!’ exatos 5 segundos depois a tábua tava vermelha e meu dedo espirrava sangue para todos os lados. Eu olhei pra ele toda sem graça e disse: ‘Acho que não sou tão boa assim né?!’ O cara congelou, não sabia o que fazer, olhava para todos os lados e não entendia como aquilo poderia estar acontecendo com ele! Seria cômico se não fosse trágico! Hahahaha Meu dedo não parava de sangrar, colocava um pano e o pano encharcava, tentei colocar o band-aid e ele não grudava, enfiei uma luva e continuei trabalhando... Ele perguntou se eu queria ir no hospital e eu falei que sim, ele foi embora e falou q voltava em uma hora pra me levar pro hospital!! Milagrosamente eu terminei todas as comandas, sozinha e com uma mão só! E a noite terminou no hospital, depois de 2h de espera, 4 pontos no dedo e uma conta de 400 dólares em despesas médicas! Eu juro que eu tô tentando entender o significado de tudo o que tá acontecendo comigo aqui.. Eu sei que não é fácil, eu sei que coisas acontecem. Mas sério, às vezes parece que tudo acontece comigo! No mínimo é para que eu tenha histórias para contar! ;D

Ps.: Esse é só o segundo capítulo dessa história... 

terça-feira, 18 de setembro de 2012

A saga do meu primeiro emprego no Canadá - Parte 1


    Estava aqui tentando fzr um vídeo pq esse post vai ser graaande, então não queria cansar ng! Mas minha capacidade limitada de lidar com tecnologia me impediu de fazê-lo, meu computador se recusa a reconher minha voz! ;/ Decidi que para não ficar cansativo e para instigá-los a ler o meu blog eu dividirei em capítulos!
Começarei aqui então uma semana de muita história pra contar! A primeira das novidades é que não sou mais desempregada! Aee!! Porém ainda continuo sem meu próprio teto! Hahaha Tudo bem, uma coisa de cada vez né?!

    Tivemos um feriado essa segunda-feira, e eu estava cheia de planos para curtir o fim de semana, só q no sábado uma enxaqueca me atacou e a balada do fim de semana (e feriado) inteiros foram no El Dredon, no meu porão particular.. Vou dizer que não foi o melhor fim de semana de todos não. Esse tempo ocioso me fez pensar bastante e aumentou minha ansiedade... Começou a bater o desespero e encher minha cabeça de ‘e se’. De repente tudo pareceu ruim, não tenho emprego, não achei apartamento, tô gorda... Foi a primeira vez que eu chorei e quis ir embora!! No ápice do meu desespero meu telefone tocou... Era um brasileiro com quem eu tinha falado uma vez no facebook e tinha acabado de chegar em Vancouver. Ele tava me chamando para dividir apartamento com ele e mais 2 num prédio mto bom que eu já tinha visto antes... 5 minutos depois eu recebi um email de um pub que eu tinha mandado um currículo e estavam querendo marcar uma entrevista comigo! Coincidência ou não esse pub fica a 3 PASSOS do apartamento!!! Só podia ser um sinal! Hahaha Um pouco mais animada marquei a entrevista para o dia seguinte e o apartamento para quinta, assim saberia se tinha conseguido o emprego ou não...

    Terça-feira acordei ainda um pouco baqueada mas cheia de esperança de mudanças... Fui para a aula mas não parava de pensar na entrevista. Que emoção, como eu deveria me portar? O que eu deveria falar? Será que meu inglês ia me deixar na mão?! Às 2:30 cheguei no tal pub e logo percebi q todas as minhas preocupações eram vãs... Me receberam o dono e o ‘chef’. Cada um merece uma descrição detalhada... O dono (vou chamar aqui de David) é um cara mais velho, meio excêntrico, com cara e jeito de fazendeiro, desses que tem muito dinheiro mas não tem nenhuma noção de como gerenciar um negócio.... O ‘chef’ (vou chamar de Craig) é um personagem típico de besteirol americano, gordo, cheio de espinhas, óculos grossos, calça sempre aparecendo o cofre, tudo isso somado a um avental imundo. Me perguntaram que horas eu poderia trabalhar, me mostraram o cardápio e perguntaram logo quando eu poderia começar (a “entrevista” durou menos de 10 minutos..)  Respondi que começaria quando eles quisessem, e em seguida ouvi um ‘então vamos começar agora?’ Nesse dia eu entrei no pub às 14:30 e saí às 22:00!

     Quando entrei na cozinha quase dei meia volta! Que lugar imundo!!! Tinha um monte de mosquinha, o chão nojento, o óleo da fritadeira eu não faço idéia de quando foi a última vez que foi trocado, dentro da geladeira umas carnes que eu não conseguia identificar... Sem contar com a pilha de pratos sujos na pia que ele me informou que teríamos que lavar depois... A primeira coisa que o chef me falou foi ‘você pode comer o que você quiser aqui viu?! Fique À vontade...’ e eu logo pensei ‘claro, se eu tiver coragem!’ A noite seguiu com ele me explicando como se faz hamburguer, batata frita e massas! Sim, é um pub que vende desde chicken wings à camarão ao vinho branco... Fim de noite eu acabei até gostando... Não tinha muito movimento no pub, parecia que seria um emprego tranquilo... No final eu perguntei ‘Então, somos quantos na equipe da cozinha?’ e ele falou ‘Ué, eu e você!’ Quase caí pra trás! O cara me explicou que os outros dois que trabalhavam lá tinham sumido e ele estava sozinho desde então, trabalhando no almoço e jantar todos os dias.. Foi aí que comecei a ficar tensa...

    No dia seguinte cheguei para trabalhar,  animadinha até...  Mas quando entrei na cozinha não achei ninguém! O dono apareceu e disse que o chef tinha faltado. Disse que ele tinha ligado falando que invadiram a casa dele e roubaram um monte de coisas, então ele talvez fosse mais tarde... Mas logo depois de me contar isso ele acrescentou que demitiria o cara no dia seguinte! As coisas começaram a não fazer sentido... Peraí, eu entrei ontem, o cara vai demitir o chef amanhã, não tem mais ninguém na equipe, vai sobrar pra mim? É isso mesmo?? Comecei a pensar que talvez estivesse entrando numa canoa furada... Mas beleza, vou tentar do mesmo jeito... Tô aqui pra isso, as coisas não podem ser tão ruins assim né?! Acabei trabalhando sozinha e a primeira coisa que eu fiz foi limpar a cozinha de cima a baixo.  Assim como segunda-feira, não teve muito movimento,  então eu dei conta de tudo sozinha! Foi muuuuito legal!  Fora um pequeno fato de que eu não sabia ainda todos os pratos do cardápio, mas o dono me deu carta branca pra fazer o que eu quisesse, então os pratos que eu não sabia eu simplesmente inventava! Hahaha E num é que ainda tiveram clientes que elogiaram?! Saí do trabalho feliz e contente, mas ainda com uma pulga atrás da orelha...

Ps.: Volto amanhã com mais um pedaço da história...