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sábado, 6 de outubro de 2012

Contos de fatos - Cada esquina um Homeless


    Há quem diga que a vida de homeless por aqui não é assim tão ruim. Eles recebem apoio do governo, como abrigo, comida, roupas, academia (tem até aula de yoga) e até DINHEIRO. Além, é claro, do sistema de saúde daqui que todo mundo já sabe que é ótimo, seja pra quem for... Ah, e eles também podem andar de ônibus de graça, pra onde bem entenderem... Não é à toa que Vancouver é a cidade com mais homeless por m² da América do Norte. É, literalmente, um homeless por esquina. Mas se eles tem todo esse apoio porque eles ficam nas ruas? Essa história me intrigou desde que eu cheguei aqui e depois de dois meses os observando eu percebi algumas coisas...

    Não tem idade e nem tipo físico para morar na rua, mas em contraste com os do Brasil, você simplesmente não vê criança de rua, NENHUMA! A maioria é jovem ou de meia idade, e chega a ser irritante porque você vê que são pessoas que são capazes de trabalhar, simplesmente não querem. Também um pouco diferente do Brasil, eles pedem sim dinheiro, mas geralmente ficam na deles, com plaquinhas de pedidos, ou só perguntam se você tem um trocado. Jamais perguntam para os carros na rua, e eles te deixam em paz, não te fazem sentir mal por não ajudar. Algumas coisas me chamaram mais atenção: muitos tem cachorros (descobri que eles ganham um pouco a mais se tiverem cachorro, hahaha como uma bolsa família para o dog!), e fiquei impressionada com o número de cadeirantes ou que usam muleta ou coisa do tipo...

    Como ainda não tenho mesa na minha casa, eu adoro almoçar na janela do meu quarto observando o movimento na rua. Hoje vi uma briga entre dois homeless, um na cadeira de rodas e outro com uma muleta... Eles gritavam e discutiam sobre alguma coisa que parecia importante, provavelmente um roubou o ‘ponto’ do outro... Brigas de homeless são até comuns por aqui... Mas essa me chamou a atenção porque os caras estavam realmente irritados e gritando demais... De repente, o que estava com a muleta a tirou do chão e apontou na cara do cadeirante. Já pensei logo ‘poxa, golpe baixo!’ Só que o da cadeira de rodas simplesmente levantou e arrancou a muleta da mão do outro. Na hora entendi o porquê de tantos ‘deficientes’ de rua. O acesso a uma cadeira de rodas ou a muletas é muito fácil e isso deve ajudar bastante no orçamento deles, apelando para a piedade do povo, é isso aí! Hahaha

    Engraçado é que no Brasil você anda na rua com um pouco de medo que alguém apareça pra te assaltar e geralmente se incomoda um pouco quando passa por algum morador de rua. Aqui é tão comum e eles são tão na deles que você acaba por não se importar. O problema é que junto aos homeless tem os drogados. A história dos drogados é ainda mais interessante. Eles tem também abrigos e todos os auxílios que os homeless tem. Mas eles têm um lugarzinho em uma das ruas bem no centro daqui (que são +- 8 quarteirões) onde eles têm toda a liberdade para usar as drogas deles. Existem até clínicas que dão a droga e os ajudam a injetar (o argumento do gorveno é que com isso eles previnem doenças por reutilização de agulha ou más condições de uso e aplicação da droga.. Oo) Eles ficam sim na rua, e às vezes dá medo quando cruza com um deles. Mas eles não podem fazer nada com ninguém. Se algum drogado mexe com alguém passando na rua, ou é violento, ele perde todo o direito e suporte do governo. Justamente por isso eles tem um senso de comunidade muito grande. Quando um está mais agitado os outros o levam para longe da rua.

    Eu já cruzei com alguns na rua que me deixaram com histórias para contar. Primeiro foi uma velhinha muito doida que me parou e começou a falar comigo alguma coisa que não entendi. Nessas horas eu sempre uso a tática do ‘yo no hablo inglês’ hahaha Como não fiz o que ela queria, e eu nem sabia o que era, ela praguejou alguma coisa e foi embora. No dia seguinte eu encontro a MESMA velhinha, só que em outro bairro. Ela vem na minha direção e diz que lembra de mim do outro dia, me manda ir para aquele lugar e vai embora. E eu juro que até hoje eu não sei o que eu fiz para aquela velhinha me odiar tanto.

    Teve uma outra que me deixou apavorada. Era de madrugada e eu estava esperando o ônibus para voltar do trabalho pra casa. Eu estava no celular e mesmo assim uma mulher veio falar comigo! Ela estava com a pupila beeeem pequenininha e os olhos super arregalados, chegou bem pertinho de mim e olhou no fundo dos meus olhos. Como eu estava no telefone fiquei tentando dar voltas, mas ela me perseguia e sempre olhava no fundo dos meus olhos. Começou a falar que a mãe dela tinha morrido e ela precisava de 20 dólares para dormir num hostel. Eu falei que não tinha e não entendia inglês, grande erro! Ela começou a falar e fazer gestos para me fazer entender... Cada vez chegava mais perto e olhava mais fundo nos meus olhos. Me deu até um calafrio ruim, credo! Até que, graaaças a Deus, meu ônibus chegou. Eu corri pra dentro e nunca mais vi essa mulher na minha vida. Pegar ônibus naquela parada é a única coisa que me dá medo na noite daqui. Fora isso é tranquilo...

    Antes de vir pra cá eu assisti um documentário muito interessante e indico para todo mundo. Por coincidência, ontem eu vi o cara do documentário na rua e fiquei doida pra falar com ele. Demorei um pouco e acabei falando em português, ele não sacou que era com ele! Hahahaha Enfim, o documentário está em inglês, não achei com legendas. Super recomendo para quem, como eu, ficou intrigado com a história dos homeless daqui. Chama-se Streets of Plenty e é só clicar no nome aí que ele passa online mesmo! Volto depois com mais histórias! J







segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Contos de fatos - Vancouver, cidade cenário


    Sempre fui observadora  e curiosa, desde pequena.. Minha mãe costuma contar que eu era uma criança que encarava todo mundo, deixando ela até envergonhada... É claro que quando eu cheguei aqui em Vancouver, com tanta coisa diferente, misturas de culturas e gente de todos os tipos, essa característica se acentuou (não, eu não encaro as pessoas por aqui, aprendi a disfarçar, eu acho! Hahaha).

    Vi tanta coisa diferente que de repente só ver não era mais suficiente... Resolvi então fotografar e criar o projeto Anonymous Vancouver. A proposta era colocar uma foto por dia das pessoas diferentes (ou nem tanto..) que eu via nas ruas por aqui. Não consegui fazer com que fosse diário porque tirar fotos de pessoas sem prévia autorização não é tão simples (cheguei a levar um esculacho de uma mulher que achou que eu tava tirando foto dela). Mas por trás das fotos sempre tem uma história. Comecei então a escrever sobre as fotos, e de repente tirar fotos começou a ser mais complicado ainda. Aqui ando a pé a maior parte do tempo, o que é muito bom para observar as coisas. Por outro lado, minha câmera não é das mais leves, então nem sempre tenho a oportunidade de fotografar tudo o que queria. Ainda bem que sempre gostei de escrever desde pequena também! Assim guardo os momentos que não consegui registrar em foto...

    A minha idéia agora é começar um pequeno projeto de relatos (fotográficos ou não) de casos ou coisas que vejo pelas ruas de Vancouver... Tenho muita dificuldade em manter um compromisso, então não vou me comprometer a postar toda semana, ou todo mês... Simplesmente estou criando uma coluna de pequenos contos, e colocarei aqui a medida com que forem acontecendo...

    Vou começar então falando um pouco dessa cidade cenário. Outro dia estava voltando pra casa de madrugada quando me deparei com uma rua em estado de caos... Alguns carros destruídos, um monte de coisa no chão, não entendi nada, parecia um cenário de guerra no meio de uma cidade tão pacata... Foi quando olhei um pouco melhor e vi dois caras lutando com uma espécie de espada! Oo Entendi melhor o que tava acontecendo quando vi mais um monte de câmeras em volta... Era uma cena do filme 3D do Metallica (que por sinal eu fui no show de gravação! ;D)

    Antes de vir pra cá eu andei procurando alguns filmes e seriados que foram filmados aqui, aquela coisa de curiosidade, tudo que era relacionado a Vancouver eu tava assistindo... Mas é claro que olhando na telinha você nunca tem noção do que realmente é. Até que ontem fui comprar verduras e não pude entrar no mercadinho porque estavam gravando uma cena de Fringe na frente! Fico me perguntando que dia que eu vou abrir a janela e o Gael Garcia ou Brad Pitt vão estar fazendo um filme embaixo do meu prédio! Hehehe