Há quem diga que a vida de
homeless por aqui não é assim tão ruim. Eles recebem apoio do governo, como
abrigo, comida, roupas, academia (tem até aula de yoga) e até DINHEIRO. Além, é
claro, do sistema de saúde daqui que todo mundo já sabe que é ótimo, seja pra
quem for... Ah, e eles também podem andar de ônibus de graça, pra onde bem
entenderem... Não é à toa que Vancouver é a cidade com mais homeless por m² da
América do Norte. É, literalmente, um homeless por esquina. Mas se eles tem todo
esse apoio porque eles ficam nas ruas? Essa história me intrigou desde que eu
cheguei aqui e depois de dois meses os observando eu percebi algumas coisas...
Não tem idade e nem tipo físico para morar
na rua, mas em contraste com os do Brasil, você simplesmente não vê criança de
rua, NENHUMA! A maioria é jovem ou de meia idade, e chega a ser
irritante porque você vê que são pessoas que são capazes de trabalhar,
simplesmente não querem. Também um pouco diferente do Brasil, eles pedem sim
dinheiro, mas geralmente ficam na deles, com plaquinhas de pedidos, ou só
perguntam se você tem um trocado. Jamais perguntam para os carros na rua, e eles te deixam em paz, não te fazem sentir
mal por não ajudar. Algumas coisas me chamaram mais atenção: muitos tem
cachorros (descobri que eles ganham um pouco a mais se tiverem cachorro, hahaha
como uma bolsa família para o dog!), e fiquei impressionada com o número de
cadeirantes ou que usam muleta ou coisa do tipo...
Como ainda não tenho mesa na minha casa, eu
adoro almoçar na janela do meu quarto observando o movimento na rua. Hoje vi
uma briga entre dois homeless, um na cadeira de rodas e outro com uma muleta...
Eles gritavam e discutiam sobre alguma coisa que parecia importante,
provavelmente um roubou o ‘ponto’ do outro... Brigas de homeless são até comuns
por aqui... Mas essa me chamou a atenção porque os caras estavam realmente
irritados e gritando demais... De repente, o que estava com a muleta a tirou do chão e apontou na cara do cadeirante. Já pensei logo ‘poxa, golpe baixo!’ Só
que o da cadeira de rodas simplesmente levantou e arrancou a muleta da mão do
outro. Na hora entendi o porquê de tantos ‘deficientes’ de rua. O acesso a uma
cadeira de rodas ou a muletas é muito fácil e isso deve ajudar bastante no
orçamento deles, apelando para a piedade do povo, é isso aí! Hahaha
Engraçado é que no Brasil você anda na rua
com um pouco de medo que alguém apareça pra te assaltar e geralmente se
incomoda um pouco quando passa por algum morador de rua. Aqui é tão comum e
eles são tão na deles que você acaba por não se importar. O problema é que
junto aos homeless tem os drogados. A história dos
drogados é ainda mais interessante. Eles tem também abrigos e todos os auxílios
que os homeless tem. Mas eles têm um lugarzinho em uma das ruas bem no centro
daqui (que são +- 8 quarteirões) onde eles têm toda a liberdade para usar as
drogas deles. Existem até clínicas que dão a droga e os ajudam a injetar (o
argumento do gorveno é que com isso eles previnem doenças por reutilização de
agulha ou más condições de uso e aplicação da droga.. Oo) Eles ficam sim na
rua, e às vezes dá medo quando cruza com um deles. Mas eles não podem fazer nada
com ninguém. Se algum drogado mexe com alguém passando na rua, ou é violento,
ele perde todo o direito e suporte do governo. Justamente por isso eles tem um
senso de comunidade muito grande. Quando um está mais agitado os outros o levam para longe da rua.
Eu já cruzei com alguns na rua que me deixaram
com histórias para contar. Primeiro foi uma velhinha muito doida que me parou e
começou a falar comigo alguma coisa que não entendi. Nessas horas eu sempre uso
a tática do ‘yo no hablo inglês’ hahaha Como não fiz o que ela queria, e eu nem
sabia o que era, ela praguejou alguma coisa e foi embora. No dia seguinte eu
encontro a MESMA velhinha, só que em outro bairro. Ela vem na minha direção e diz que
lembra de mim do outro dia, me manda ir para aquele lugar e vai embora. E eu
juro que até hoje eu não sei o que eu fiz para aquela velhinha me odiar tanto.
Teve uma outra que me deixou apavorada. Era
de madrugada e eu estava esperando o ônibus para voltar do trabalho pra casa.
Eu estava no celular e mesmo assim uma mulher veio falar comigo! Ela estava
com a pupila beeeem pequenininha e os olhos super arregalados, chegou bem
pertinho de mim e olhou no fundo dos meus olhos. Como eu estava no telefone
fiquei tentando dar voltas, mas ela me perseguia e sempre olhava no fundo dos
meus olhos. Começou a falar que a mãe dela tinha morrido e ela precisava de 20
dólares para dormir num hostel. Eu falei que não tinha e não entendia inglês,
grande erro! Ela começou a falar e fazer gestos para me fazer entender... Cada
vez chegava mais perto e olhava mais fundo nos meus olhos. Me deu até um
calafrio ruim, credo! Até que, graaaças a Deus, meu ônibus chegou. Eu corri pra
dentro e nunca mais vi essa mulher na minha vida. Pegar ônibus naquela parada é
a única coisa que me dá medo na noite daqui. Fora isso é tranquilo...
Antes de vir pra cá eu assisti um
documentário muito interessante e indico para todo mundo. Por coincidência, ontem eu vi o cara do documentário na rua e fiquei doida pra
falar com ele. Demorei um pouco e acabei falando em português, ele não
sacou que era com ele! Hahahaha Enfim, o documentário está em inglês, não achei
com legendas. Super recomendo para quem, como eu, ficou intrigado com a história
dos homeless daqui. Chama-se Streets of Plenty e é só
clicar no nome aí que ele passa online mesmo! Volto depois com mais histórias! J