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terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Então.. É natal...


24 de dezembro de 2012.



     Natal. Gingerbread, pinheiros, neve, candy cane, Santa Claus e mistletoes. Meu primeiro natal longe de casa. Não fossem as irritantes musiquinhas que ando ouvindo todos os dias há um mês eu nem perceberia que o natal chegou! Porque natal sem farofa, arroz com passas (jantar de fim de ano sem ter que separar as passas do arroz não tem graça), chamonix da vovó, amigo oculto e a ansiedade para ver os presentes que estão embaixo da árvore não tem a menor cara de natal. Me disseram que seria uma das partes mais difícieis de se morar fora, aconselharam-me a não ver a família no skype na hora da ceia porque bateria uma deprê. Bom, nem se eu quisesse eu conseguiria, a diferença de fuso faz com que o natal aqui comece quando o do Brasil acabou. Hoje acordei e senti como se fosse um dia como qualquer outro, fui trabalhar e minha única preocupação era chegar em casa para preparar um salpicão para o jantar de mais tarde. Continuei tocando meu dia como um outro qualquer, e foi quando comecei a receber algumas mensagens de pessoas realmente queridas. A partir daí já não era um dia comum, meu coraçãozinho ficou na mão e eu me dei conta de quão importante é essa data.

      Eu não sou religiosa, mas agradeço muito à Deus por esse dia, acho que todos precisam de um dia no ano para passar com os mais queridos e  consequentemente se sentir querido também. Acho que esse é o clima no natal, cheio de amor! ;) Facebook cheio de fotos de famílias e ceias fartas. Passei o meu natal na casa de uns amigos da minha roommate, todos na mesma situação que a gente, ninguém era daqui. Chegamos o mais próximo que conseguimos do natal, com peru, jogo para trocar presentes, abraços de merry christmas (ou no caso Feliz Navidad porque era todo mundo latino) e musiquinhas para embalar. Não, eu não tive um natal como estou acostumada, mas senti um carinho imenso e lembrei de todo mundo que amo. Definitivamente é uma das partes mais difíceis de um intercâmbio, mas cheio de aprendizado como todos os dias! Até porque é uma delícia, mesmo de longe se sentir amada e querida! Então, é natal, e a todos aqueles que moram no meu coração e também os que estão na mesma situação que eu: aproveitem para ver o natal muito além do Papai Noel, e sim do amor em  toda a sua essência. J Feliz Natal, Merry Christmas (e agora Feliz Navidad también.. jajajaja) 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

De mãos dadas com a vida - What about life meaning?!


     Eu sempre tive um problema com horários (assim como metade da população brasileira tem! Hahaha). Estar atrasada para as coisas já é rotina, e agora é ainda pior. Além de estar em um país que não admite atrasos, eu tenho que administrar essa minha tendência com o horário do ônibus, que eu acabo sempre perdendo! LEntão, para evitar problemas futuros, eu decidi que daqui em diante vou chegar no trabaho meia hora antes. Bom, 30 minutos de nada pra fazer no local de trabalho parece meio torturante, por isso eu resolvi comprar um livro pra ler antes de cada turno.  Odeio sinopses, tanto de filme quanto de livros, acho que acabam por estragar o mistério. Logo, eu só descubro do que se trata quando começo a ler. Meu novo livro já começou mal. Eu o escolhi pelo autor, já li alguns livros dele e adorei, mas logo na primeira página pude perceber que se tratava de um livro triste. Trata-se de um cara já nos seus setenta e poucos, que descobre que tem uma doença fatal e começa a pensar no sentido da vida. Não que eu não goste de ler sobre o sentindo da vida, esse tipo de livro geralmente é profundo e nos leva a pensar. Mas não é exatamente o que eu estava planejando pensar por agora. A primeira coisa que me veio na cabeça foi ‘que péssimo ‘timing’ para esse livro!’.  O problema é que eu me impression muito fácil com as coisas. Se leio uma história de amor fico com vontade de me apaixonar, comédias me fazem querer sair pra me divertir e histórias de câncer me deixam apavorada, com medo de ficar doente ou ter alguém com câncer na família. Então, eu não queria começar a pensar sobre a morte na época em que me sinto mais viva do que nunca!

     Eu estava sentada, tomando um café e lendo meu livro quando um senhor veio falar comigo, como se nem percebesse que eu estava lendo alguma coisa ali. Ele veio com um sorriso aberto e falou ‘A melhor coisa de estar no fundo do poço é que não se tem pra onde ir senão pra cima!’. Continuou falando sobre estar triste ou coisas do tipo, quando de repente parou, olhou pra mim e disse ‘bom, você não parece alguém que esteja deprimida.’( Acertou em cheio senhor, estou longe da depressão.) Apenas meneei a cabeça e ele me falou que era o sortudo da família. ‘Meu pai era fumante e morreu de cancer no pulmão, eu não fumo. Minha mãe era alcóolatra e acabou com cirrose, ainda bem que eu não bebo. Meu irmão morreu num acidente de carro, o que nunca vai acontecer comigo porque eu não dirijo. Então ele me disse que era o mais ‘em forma’ da família, listou e descreveu todos eles (os que ainda estão vivos). Me mostrou sua bicicleta e todos os aparatos de proteção que tinha para pedalar (incluindo o capacete mais hi-tech que eu já vi, colete que brilha, lanterna dianteira, traseira, rasteira e o que mais existia no mundo em termos de segurança). Foi aí que ele percebeu que eu era uma estrangeira e tinha uma expressão de ‘Não tô entendendo nada do que vc tá falando’ e decidiu ir embora. Vestiu o melhor sorriso, me desejou toda a sorte do mundo e foi embora.

      Meu inglês não é tão bom, por isso não entendi absolutamente tudo o que ele falou. Porém pude lê-lo claramente e tirar uma grande lição de tudo isso. Eu percebi que esse homem amava a vida, o que o fez ter muito medo da morte. Contudo, esse medo o levou à depressão e a vida não é tão boa para os deprimidos. Então, qual é a razão para se proteger da morte?! Viver pela metade não basta, pois sempre terá algo para se arrepender, algo que você gostaria de ter usufruído mais para a vida ter valido a pena. A verdade é que a morte é inevitável e está em qualquer lugar. É tolice tentar se proteger dela. O que podemos fazer é dar o máximo para termos uma vida agradável. Evitar cigarros para não ter câncer de pulmão é válido, não porque o câncer pode te matar, mas porque a vida torna-se muito dolorosa e não vale a pena os maços que foram consumidos. Não beber em excesso para não se tornar um alcóolotra, pois não há nada pior do que viver dependente de algo químico. Não dirigir é uma opção, não para evitar acidentes, mas para ser mais saudável. Afinal de contas, acidentes podem acontecer com carros, bicicletas ou até mesmo em casa (o lugar que geralmente consideramos o mais seguro no mundo). Sim, eu comecei a ler um livro sobre a morte, e nunca havia dado tão pouca atenção à ela como agora. A vida também é um ponto de vista, e é tudo o que tenho. Portanto,  no que depender de mim, farei com que seja sempre a melhor possível! J




     I’ve always had a problem with timing (just like most of Brazilians do). Being late for things is certainly a routine for me, and now is even worse because I have to manage the bus schedule with mine. To avoid getting in trouble I decided to go to work half hour earlier from now on, and to spend that time before my shift I just bought a book. I hate reading synopses, either of books or movies; they ruin the mystery of it. So, I only find out what the content is when I start to read it. My new book started in a bad way; I’ve chosen it because I already knew the author and loved his books. But I could see already in the first page that it was a sad book. As cliché as it could be, it is about an old man that discovers a bad disease and start to appreciate life. Not that I don’t like stories about life meaning, they are usually deep and make you think about it, but it’s not what I was expecting for now. My first thought was ‘What a bad time for this kind of book’. The thing is that I get easily impressed with everything. If I read love stories I feel like falling in love, comedies make me want to have fun, cancer stories let me worried about being sick, or even worse, have someone sick in the family. So, I didn’t want to start to think about death at this moment of my life, that I feel more alive than ever.

     I was sitting by myself drinking my coffee and just starting to read the book when an old guy started to talk to me; as if he didn’t care I was reading something. He came with a happy expression in his face and said “the best thing about being at the bottom is there’s nowhere to go, but up!” and kept talking about being sad or something like this when he suddenly stopped, looked at me and said ‘well, you don’t look like someone who is depressed’. You’re damn right Sir, I’m not depressed at all. He told me that he is the lucky one on his family “my father was a smoker and died with lungs cancer, I don’t smoke. My mom was an alcoholic and died with cirrhosis, thank God I don’t drink. My brother died in a car accident, and will never happen to me, because I don’t drive.” Then he just told me that he was the one in best shape on his family, made a list of everybody and described them all! Showed me his bicycle and every protection he had for riding, and when he realized that I was a foreign and had a ‘what-are-you-talking-about?’ expression on my face he decided to leave. Dressed his best smile, wished me the best luck in life and left.

      My English is not that good, so I couldn’t understand everything he said, but I could clearly get his point and it was a good lesson for me. I realized that this guy loved life, which made him so afraid of dying, but this fear made him depressed and life is not that good for depressed people. So what’s the point protecting ourselves from death?! Half living is not enough, there will be always something for you to regret, something you wish you have lived to make dying worth it. The thing is death is everywhere, nobody can avoid it, and it’s pointless to try to scape anyhow. What we could do is just make sure we have a pleasant life. Avoid cigarettes for not having lungs cancer, I agree, but not because you can die of cancer, but because it’s too painful and isn’t worth it. Not drinking for not become an alcoholic, sure, that is nothing worse than depending on some chemical. Not driving is an option, not only to avoid accidents, but for being healthy. By the way, accidents can happen anyway, either in your car, on bicycle or at home (what we usually think is about the safest place in the world). Yes, I started to read a book about death and I couldn’t care less.  Life is also a point of view, and it’s all that I have, so I’ll make sure it’s always the best. J




terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Em cima do muro


        
     Nunca me decidi se acredito em horóscopo ou não, assim como ainda não estou certa sobre minha religião e não tenho tanta certeza de qual é a minha exata profissão... Acho que se pedissem para que eu me descrevesse em uma palavra eu seria a ‘indecisão’ em pessoa! (Isso se eu conseguisse decidir uma palavra para me descrever né?!) Acontece que essa indecisão, que me impulsiona a fazer tudo, é a mesma que me segura para trás e me faz largar as coisas no meio do caminho (assim como esse post, que eu comecei há duas semanas atrás e não consegui terminar...)

      Esses dias eu li um post num blog que eu achei super interessante. Segundo Natalia Klein, dona do blog Adorável Psicose, nós sofremos da ‘síndrome do parque de diversões’. Trata-se de uma analogia interessantíssima que ela faz da vida com um parque de diversões, em que as pessoas estão em um brinquedo mas não tiram o olho do próximo. Me indentifiquei demais. Não que eu não esteja curtindo a minha montanha russa, pois se duvidar entraria na fila para ela várias vezes. Ela certamente é um dos brinquedos mais populares, com graaandes descidas e até loopings em que você fica de cabeça para baixo. Dá um medo danado, mas você não se importa porque o friozinho na barriga antes de cada volta é o que te impulsiona. Mas não consigo deixar de pensar no tanto de coisas que o parque me oferece depois daqui. Quem sabe uma roda-gigante, bem suave, um barco fantasma, um elevador que cai... São muitas opções.

     A verdade é que eu nunca fui tão feliz como nesses últimos quatro meses da minha vida (frase bem comum em cartões de aniversários de namoro... hahaha, embora no meu caso, o namorado seja inexistente). Aliás, poderia fazer um cartão para mim mesma: ‘Fernanda, obrigada pelos últimos meses que passamos juntas, você é incrível, nunca ninguém me fez tão feliz como você me faz. Mesmo com suas loucuras e indecisões diárias você é uma ótima companhia!’. Nunca passei  tanto tempo sozinha como passo aqui. Minha vida inteira eu estava à procura de companhia para fazer o que quer que fosse, e quase sempre tive essa companhia. Não reclamo. E o pior é que, muitas vezes, se não tivesse companhia, eu simplesmente não fazia.  Desde que embarquei nessa jornada alguma coisa mudou em mim. Acho que eu me conheci, e descobri que, afinal de contas, eu não sou de todo má. Nunca imaginei que fosse não só curtir fazer as coisas sozinha, como muitas vezes preferir estar só. Não que eu tenha virado anti-social. Muito pelo contrário, deixei de ser bicho do mato e aprendi que qualquer lugar é um potencial para se fazer amizade. Já fiz bons amigos em bares (quem não faz?), McDonald’s, skytrains e elevadores. Toda esquina é propícia para se conhecer alguém, basta sair da toca.

     Acontece que, mesmo curtindo muito essa minha vida na montanha-russa, eu não consigo evitar de pensar no que vem pela frente. Ainda é cedo, eu sei, principalmente para a minha cabeça, que muda a cada segundo. Mas todo dia quando estou voltando do trabalho, especialmente quando olho para essa vista , algo me instiga a pensar no ‘e depois?’. Eu me sinto com o mundo aos meus pés. Tenho idéias malucas como ir pra Montréal aprender francês, ou talvez Argentina estudar espanhol, como também lembro de casa e de um futuro mais certo. O que me deixa louca é que eu não tenho nada que me segure em lugar nenhum. Não tenho previsões, não tenho expectativas, estou numa ponte, mas não sei pra onde. Às vezes a sensação que tenho é a de que estou tirando umas férias de minha própria vida. Também penso que isso aqui não é vida real, não pode ser. E o irônico disso tudo é que eu nunca passei tanto perrengue como estou passando aqui. Nunca fiquei tanto tempo em um hospital (e sozinha!), nunca estive tão sem dinheiro, nunca passei tanto frio... Mas também nunca tive tanta alegria de VIVER. Aqui eu tenho o meu cantinho, eu compro a minha comida, eu vivo a MINHA vida e isso não tem preço.

      Enfim, enquanto o verão não chega o melhor é aproveitar as voltas que me restam nessa  montanha russa e me preparar para os próximos brinquedos. Antes que a alta temporada  chegue e traga com ela muitos turistas para disputar o meu parque de diversões... Carpe Diem!