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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A (re)volta

    Eu cheguei no inverno, época que todo mundo espera pra poder tirar do armário os casacos, cachecóis, botas para usar nos incríveis e congelantes 19ºC (abaixo de 20 já é frio, muito frio né?!) Eu, que já tinha passado por uma insolação aos 9ºC, estava felicíssima de poder tirar a poeira dos meus modelitos Garota de Ipanema. Não conseguia passar 5 min na rua que já me sentia uma tainha frita. Esse foi o primeiro baque, o calor.

    Definitivamente, andando na rua é que se percebe as maiores diferenças. Cheguei a pensar várias vezes que tinha algo errado comigo, talvez um chiclete no cabelo, uma calça rasgada, alguma coisa no meu dente, porque as pessoas olham de cima a baixo. Sem contar o pavor de sair sozinha à noite e um louco entrar no meu carro, tirar todo o meu pouco-dinheiro e me largar no meio do mato. Mesmo com todo o cuidado foi +- o que me aconteceu na primeira noite que saí. Fui com alguns amigos a um barzinho para matar a saudade do chopp (e deles também....), quando, depois de algumas tulipas e uns petiscos, veio o susto. O garçom chegou, nos abordou cordialmente, mas logo percebi que era encrenca. Chegou alegando que devíamos uma certa quantia, pelo que havíamos consumido, e levou toda a minha grana... mais um choque... o preço de tudo!

    Mas todas essas coisas são apenas matérias de (re)adaptação. Não me esqueci que chegando à América do Norte, eu parecia um pinguim, toda empacotada, aos primeiros indícios de frio. Observava tooodo mundo nos ônibus, metrôs e calçadas, sem nem ser notada. Fui eu quem ‘esqueceu’ o iphone na mesa e ele não existia mais quando voltei tranquila para buscar. E gastei muito mais do que deveria, por livre e espontânea vontade, quando me deparei com a Dollar Store. São sim situações complicadas, mas nada, nada mesmo, comparadas aos contrastes internos (pessoais).

    Confesso que a grande demora para fazer esse post foi uma pequena trava que tive logo depois que cheguei. Primeiro eu não tive tempo, quando terminados os reencontros sociais eu fiquei muito, muito ocupada trabalhando noites de feira, e dias inteiros nos fins de semanas para ganhar como chef, aqui menos do que ganhava como caixa de supermercado lá! Baque devastador!

    Quando você decide imergir em outra cultura, como eu fiz, você acaba por adquirir vários traços dela, bons ou não. Eu por exemplo acho que voltei mais cordial, costumava ser daquelas que entram no elevador e não dizem nem ‘bom dia’, agora presto mais atenção às pessoas e percebo que um ‘tenha um bom dia’, ‘me desculpe’, ‘posso ajudar?’ fazem sim uma tremenda diferença (e não digo para as pessoas, mas, para mim pelo menos faz!). Uma das maiores e melhores coisas que aprendi foi muito mais profunda e diz respeito à forma de encarar a vida. Notei que aqui, diferentemente de lá, nascemos e estamos destinados à um molde de vida: estudar, graduar, arranjar um BOM emprego, fazer uma BOA carreira, comprar um BOM carro, casar, trabalhar o resto da vida pra criar os filhos, que virão no mesmo molde (claro, digo isso de maneira bem grosseira e é apenas a minha percepção). Geralmente, quando conhecemos pessoas, a segunda pergunta após o nome é ‘o que você faz?’. Somos caracterizados pelo que fazemos. E estamos tão preocupados em manter um alto padrão de vida, que trabalhamos dias a fio para comprar tudo e, quando se vai viver, já não tem mais graça. É aquela velha história, quando há tempo não tem dinheiro, quando se tem dinheiro não há tempo, quando se tem tempo e dinheiro já não há mais energia.

    Minha conclusão? Nós vivemos para trabalhar e esquecemos de trabalhar para viver, como deveria ser. Repito, isso é apenas o meu ponto de vista... o que percebi no ambiente no qual estive. Tem gente que se realiza na carreira. Eu, sou indecisa, gosto de provar de tudo um pouco, não tenho uma paixão só... nunca tive vergonha do que escolhi pra mim (apesar de ser super em cima do muro ainda! Hahaha), mas também nunca falei com muito orgulho de minha profissão. Enxergo como um meio, não como um fim. Por isso, um mês e meio depois de aqui trabalhar na cozinha, decidi largar e me dedicar ao livros, em busca de um trabalho em horário comercial, férias e 13º. Assim, posso conhecer os lugares que quero, passar os fins de semanas com minha família e fazer todos os cursos que eu quiser... como meus convivas de lá vivem...


    É, eu voltei, mas cheia de planos e disposta a seguir a vida aonde ela me levar. Não me importo se vou morar numa kit ou numa casa de 8 quartos, contanto que eu consiga garantir um assento num avião pelo menos uma vez por ano já me dou por satisfeita!   


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A volta

   

    Dia dos namorados, vários balões de coração e alegria no ar. Uai, mas eu não tenho namorado! Não interessa, foi assim que eu fui recebida, dia 12 de junho, no aeroporto de Brasília. Ah vai, todo mundo que passa um ano fora sabe que vai ser recebido de volta pelos familiares e amigos no aeroporto (ainda mais depois que sua mãe, misteriosamente, começa a adicionar todos os seus amigos no facebook, exatamente uma semana antes da sua volta!). Quando faltavam apenas 30 min de voo, eu corri para o banheirinho com espelho simbólico do avião e tratei de passar uma maquiagem. Afinal, 8h de voo deixam qualquer um com cara de figurante do The Walking Dead. Eu não queria que ninguém pensasse que o Canadá tinha me feito mal, né?! Após o desembarque, contagem das 2 super malas, bagagem de mão, mochila e 3 sacolas do Free Shop, fiz uma oração básica para não ser parada na alfândega e corri pro abraço! Aaaah que delícia! Não sabia quem abraçava primeiro, tinham cartazes que nem li e ganhei e um super banho de espuma (ideia da minha mãe!).

    Depois de muitas lágrimas, abraços e beijos melados, o baque é imediato. Estava todo mundo ali, do jeitinho que eu deixei naquela feijoada em julho do ano passado. Mas e eu? Ah, eu não era a mesma pessoa. Logo de cara ouvi de pelo menos 3 bocas diferentes “Nossa Fê, mas você nem tá tão gorda.” Pareciam ignorar ou então ser benevolentes diante dos meus 8kg a mais. Percebi que não vinha só com excesso de bagagem externa, mas a interna também estava lá (e não me refiro ao pacote de gordurinhas), embora ninguém conseguisse ver. Queriam que eu contasse as histórias, mas eu só pensava em uma coisa. Voltar? Não, PÃO DE QUEIJO!!! Pedi logo 4 grandes, tentei pagar em dólares, disse ‘thank you’ e ignorei a cara de ‘que menina desmiolada’ que a garçonete fez.

    Família e amigos, check! Comida, quase check, pois os 3 dias de comilança e indigestão ainda estavam por vir. Agora era hora de ir pra casa, abraçar minha cama, curtir meu chuveiro, minhas coisas. Fui logo abrindo o armário e vi que tinha ganho várias roupas velhas\novas (memória fraca é uma super vantagem, às vezes.), depois de tentar experimentar o 1º short e ele não passar da coxa eu cansei da brincadeira. Postei no facebook que já estava em solo brasileiro e fui dormir. Grande, grande erro!!! Em menos de 5 min começaram a pipocar mensagens no meu celular. Eu tinha esquecido que conhecia tanta gente aqui. Não vou negar que é muito gostoso receber tanta atenção assim, mas só dura +- uma semana! Hahaaaa... Tive que fazer uma agenda de encontros e quase não parei nos primeiros dias. As primeiras pessoas deram sorte, ouviram histórias detalhadas, contadas com brilho nos olhos, mas depois os detalhes foram ficando esmaecidos, as histórias curtas e preguiçosas (apesar de que, até hoje nada me dá mais alegria do que ouvir alguém querendo saber das minhas histórias).

        O caminho da volta é igualzinho ao da ida. Os passos são os mesmos: pessoas e lugares; comidas; emprego; rotina. Aaah, a rotina! É aí que o calo aperta! - e tudo isso eu vou explicar no próximo post! ;)