Eu cheguei no inverno, época que todo mundo espera pra poder tirar do
armário os casacos, cachecóis, botas para usar nos incríveis e congelantes 19ºC
(abaixo de 20 já é frio, muito frio né?!) Eu, que já tinha passado por uma
insolação aos 9ºC, estava felicíssima de poder tirar a poeira dos meus modelitos
Garota de Ipanema. Não conseguia passar 5 min na rua que já me sentia uma
tainha frita. Esse foi o primeiro baque, o calor.
Definitivamente, andando na rua é que se percebe as maiores diferenças.
Cheguei a pensar várias vezes que tinha algo errado comigo, talvez um chiclete
no cabelo, uma calça rasgada, alguma coisa no meu dente, porque as pessoas
olham de cima a baixo. Sem contar o pavor de sair sozinha à noite e um louco
entrar no meu carro, tirar todo o meu pouco-dinheiro e me largar no meio do
mato. Mesmo com todo o cuidado foi +- o que me aconteceu na primeira noite que
saí. Fui com alguns amigos a um barzinho para matar a saudade do chopp (e deles
também....), quando, depois de algumas tulipas e uns petiscos, veio o susto. O
garçom chegou, nos abordou cordialmente, mas logo percebi que era encrenca.
Chegou alegando que devíamos uma certa quantia, pelo que havíamos consumido, e
levou toda a minha grana... mais um choque... o preço de tudo!
Mas todas essas coisas são apenas matérias de (re)adaptação. Não me
esqueci que chegando à América do Norte, eu parecia um pinguim, toda empacotada,
aos primeiros indícios de frio. Observava tooodo mundo nos ônibus, metrôs e
calçadas, sem nem ser notada. Fui eu quem ‘esqueceu’ o iphone na mesa e ele não
existia mais quando voltei tranquila para buscar. E gastei muito mais do que
deveria, por livre e espontânea vontade, quando me deparei com a Dollar Store. São
sim situações complicadas, mas nada, nada mesmo, comparadas aos contrastes
internos (pessoais).
Confesso que a grande demora para fazer esse post foi uma pequena trava
que tive logo depois que cheguei. Primeiro eu não tive tempo, quando terminados
os reencontros sociais eu fiquei muito, muito ocupada trabalhando noites de
feira, e dias inteiros nos fins de semanas para ganhar como chef, aqui menos do
que ganhava como caixa de supermercado lá! Baque devastador!
Quando você decide imergir em outra cultura, como eu fiz, você acaba por
adquirir vários traços dela, bons ou não. Eu por exemplo acho que voltei mais
cordial, costumava ser daquelas que entram no elevador e não dizem nem ‘bom dia’,
agora presto mais atenção às pessoas e percebo que um ‘tenha um bom dia’, ‘me
desculpe’, ‘posso ajudar?’ fazem sim uma tremenda diferença (e não digo para as
pessoas, mas, para mim pelo menos faz!). Uma das maiores e melhores coisas que
aprendi foi muito mais profunda e diz respeito à forma de encarar a vida. Notei
que aqui, diferentemente de lá, nascemos e estamos destinados à um molde de
vida: estudar, graduar, arranjar um BOM emprego, fazer uma BOA carreira,
comprar um BOM carro, casar, trabalhar o resto da vida pra criar os filhos, que
virão no mesmo molde (claro, digo isso de maneira bem grosseira e é apenas a
minha percepção). Geralmente, quando conhecemos pessoas, a segunda pergunta
após o nome é ‘o que você faz?’. Somos caracterizados pelo que fazemos. E
estamos tão preocupados em manter um alto padrão de vida, que trabalhamos dias
a fio para comprar tudo e, quando se vai viver, já não tem mais graça. É aquela
velha história, quando há tempo não tem dinheiro, quando se tem dinheiro não há
tempo, quando se tem tempo e dinheiro já não há mais energia.
Minha conclusão? Nós vivemos para trabalhar e esquecemos de trabalhar
para viver, como deveria ser. Repito, isso é apenas o meu ponto de vista... o
que percebi no ambiente no qual estive. Tem gente que se realiza na carreira.
Eu, sou indecisa, gosto de provar de tudo um pouco, não tenho uma paixão só...
nunca tive vergonha do que escolhi pra mim (apesar de ser super em cima do muro
ainda! Hahaha), mas também nunca falei com muito orgulho de minha profissão.
Enxergo como um meio, não como um fim. Por isso, um mês e meio depois de aqui trabalhar
na cozinha, decidi largar e me dedicar ao livros, em busca de um trabalho em horário
comercial, férias e 13º. Assim, posso conhecer os lugares que quero, passar os
fins de semanas com minha família e fazer todos os cursos que eu quiser... como
meus convivas de lá vivem...
É, eu voltei, mas cheia de planos e disposta a seguir a vida aonde ela
me levar. Não me importo se vou morar numa kit ou numa casa de 8 quartos,
contanto que eu consiga garantir um assento num avião pelo menos uma vez por
ano já me dou por satisfeita!
... engraçado... esta mão parece que tem 6 dedos, mas, só tem 5...!
ResponderExcluirFezinha, seja bem vinda de volta ao lar... e até o próximo empreendimento!
Conte sempre com a gente...!
Amada, a vida é percepção. Sinta, interprete, assimile... seja o que e faça o que você quiser. Quando fazemos o nosso melhor, o que queremos fazer com o tesão que só o que curtimos proporciona, o universo faz o resto. Beijo grande e respeitoso. Você fez por merecê-lo.
ResponderExcluirsabe de uma coisa?! vc n está sozinha nesse barco, ou melhor, nesse muro...rs e é delicioso saber que eu posso ter um milhão de amigos com interesses e formas de pensar diferente... mas os que vivem a vida e se emocionam deixando-se levar por ela sem maiores garantias são poucos e muitoooo especais, e vc sem dúvidas é um deles, Fêzoca, Que venham muitas viagensss e descobertas pela frente...
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