Eu sempre tive um problema com horários
(assim como metade da população brasileira tem! Hahaha). Estar atrasada para as
coisas já é rotina, e agora é ainda pior. Além de estar em um país que não
admite atrasos, eu tenho que administrar essa minha tendência com o horário do
ônibus, que eu acabo sempre perdendo! LEntão,
para evitar problemas futuros, eu decidi que daqui em diante vou chegar no
trabaho meia hora antes. Bom, 30 minutos de nada pra fazer no local de trabalho
parece meio torturante, por isso eu resolvi comprar um livro pra ler antes de
cada turno. Odeio sinopses, tanto de
filme quanto de livros, acho que acabam por estragar o mistério. Logo, eu só
descubro do que se trata quando começo a ler. Meu novo livro já começou mal. Eu
o escolhi pelo autor, já li alguns livros dele e adorei, mas logo na primeira
página pude perceber que se tratava de um livro triste. Trata-se de um cara já
nos seus setenta e poucos, que descobre que tem uma doença fatal e começa a
pensar no sentido da vida. Não que eu não goste de ler sobre o sentindo da
vida, esse tipo de livro geralmente é profundo e nos leva a pensar. Mas não é
exatamente o que eu estava planejando pensar por agora. A primeira coisa que me
veio na cabeça foi ‘que péssimo ‘timing’ para esse livro!’. O problema é que eu me impression muito fácil
com as coisas. Se leio uma história de amor fico com vontade de me apaixonar,
comédias me fazem querer sair pra me divertir e histórias de câncer me deixam
apavorada, com medo de ficar doente ou ter alguém com câncer na família. Então,
eu não queria começar a pensar sobre a morte na época em que me sinto mais viva
do que nunca!
Eu estava sentada, tomando um café e lendo
meu livro quando um senhor veio falar comigo, como se nem percebesse que eu
estava lendo alguma coisa ali. Ele veio com um sorriso aberto e falou ‘A melhor
coisa de estar no fundo do poço é que não se tem pra onde ir senão pra cima!’. Continuou
falando sobre estar triste ou coisas do tipo, quando de repente parou, olhou
pra mim e disse ‘bom, você não parece alguém que esteja deprimida.’( Acertou em
cheio senhor, estou longe da depressão.) Apenas meneei a cabeça e ele me falou
que era o sortudo da família. ‘Meu pai era fumante e morreu de cancer no
pulmão, eu não fumo. Minha mãe era alcóolatra e acabou com cirrose, ainda bem
que eu não bebo. Meu irmão morreu num acidente de carro, o que nunca vai
acontecer comigo porque eu não dirijo. Então ele me disse que era o mais ‘em
forma’ da família, listou e descreveu todos eles (os que ainda estão vivos). Me
mostrou sua bicicleta e todos os aparatos de proteção que tinha para pedalar
(incluindo o capacete mais hi-tech que eu já vi, colete que brilha, lanterna
dianteira, traseira, rasteira e o que mais existia no mundo em termos de
segurança). Foi aí que ele percebeu que eu era uma estrangeira e tinha uma
expressão de ‘Não tô entendendo nada do que vc tá falando’ e decidiu ir embora.
Vestiu o melhor sorriso, me desejou toda a sorte do mundo e foi embora.
Meu inglês não é tão bom, por isso não
entendi absolutamente tudo o que ele falou. Porém pude lê-lo claramente e tirar
uma grande lição de tudo isso. Eu percebi que esse homem amava a vida, o que o
fez ter muito medo da morte. Contudo, esse medo o levou à depressão e a vida
não é tão boa para os deprimidos. Então, qual é a razão para se proteger da
morte?! Viver pela metade não basta, pois sempre terá algo para se arrepender,
algo que você gostaria de ter usufruído mais para a vida ter valido a pena. A
verdade é que a morte é inevitável e está em qualquer lugar. É tolice tentar se
proteger dela. O que podemos fazer é dar o máximo para termos uma vida
agradável. Evitar cigarros para não ter câncer de pulmão é válido, não porque o
câncer pode te matar, mas porque a vida torna-se muito dolorosa e não vale a
pena os maços que foram consumidos. Não beber em excesso para não se tornar um
alcóolotra, pois não há nada pior do que viver dependente de algo químico. Não
dirigir é uma opção, não para evitar acidentes, mas para ser mais saudável.
Afinal de contas, acidentes podem acontecer com carros, bicicletas ou até mesmo
em casa (o lugar que geralmente consideramos o mais seguro no mundo). Sim, eu
comecei a ler um livro sobre a morte, e nunca havia dado tão pouca atenção à
ela como agora. A vida também é um ponto de vista, e é tudo o que tenho.
Portanto, no que depender de mim, farei
com que seja sempre a melhor possível! J

I’ve always had a problem with timing (just like most of Brazilians do).
Being late for things is certainly a routine for me, and now is even worse
because I have to manage the bus schedule with mine. To avoid getting in
trouble I decided to go to work half hour earlier from now on, and to spend
that time before my shift I just bought a book. I hate reading synopses, either
of books or movies; they ruin the mystery of it. So, I only find out what the
content is when I start to read it. My new book started in a bad way; I’ve
chosen it because I already knew the author and loved his books. But I could
see already in the first page that it was a sad book. As cliché as it could be,
it is about an old man that discovers a bad disease and start to appreciate
life. Not that I don’t like stories about life meaning, they are usually deep
and make you think about it, but it’s not what I was expecting for now. My
first thought was ‘What a bad time for this kind of book’. The thing is that I
get easily impressed with everything. If I read love stories I feel like
falling in love, comedies make me want to have fun, cancer stories let me
worried about being sick, or even worse, have someone sick in the family. So, I
didn’t want to start to think about death at this moment of my life, that I
feel more alive than ever.
I was sitting by myself drinking my coffee and just starting to read the
book when an old guy started to talk to me; as if he didn’t care I was reading
something. He came with a happy expression in his face and said “the best thing
about being at the bottom is there’s nowhere to go, but up!” and kept talking
about being sad or something like this when he suddenly stopped, looked at me
and said ‘well, you don’t look like someone who is depressed’. You’re damn
right Sir, I’m not depressed at all. He told me that he is the lucky one on his
family “my father was a smoker and died with lungs cancer, I don’t smoke. My
mom was an alcoholic and died with cirrhosis, thank God I don’t drink. My
brother died in a car accident, and will never happen to me, because I don’t
drive.” Then he just told me that he was the one in best shape on his family,
made a list of everybody and described them all! Showed me his bicycle and every
protection he had for riding, and when he realized that I was a foreign and had
a ‘what-are-you-talking-about?’ expression on my face he decided to leave. Dressed his best smile, wished me the
best luck in life and left.
My English is not that good, so I
couldn’t understand everything he said, but I could clearly get his point and
it was a good lesson for me. I realized that this guy loved life, which made
him so afraid of dying, but this fear made him depressed and life is not that
good for depressed people. So what’s the point protecting ourselves from
death?! Half living is not enough, there will be always something for you to
regret, something you wish you have lived to make dying worth it. The thing is
death is everywhere, nobody can avoid it, and it’s pointless to try to scape
anyhow. What we could do is just make sure we have a pleasant life. Avoid
cigarettes for not having lungs cancer, I agree, but not because you can die of
cancer, but because it’s too painful and isn’t worth it. Not drinking for not
become an alcoholic, sure, that is nothing worse than depending on some
chemical. Not driving is an option, not only to avoid accidents, but for being
healthy. By the way, accidents can happen anyway, either in your car, on
bicycle or at home (what we usually think is about the safest place in the
world). Yes, I started to read a book about death and I couldn’t care
less. Life is also a point of view, and
it’s all that I have, so I’ll make sure it’s always the best. J